terça-feira, setembro 9

Angola em tempo de eleições e de debate

João Melo: Angola, factor étnico e o resto da África

Reacções academicamente válidas e talhadas a este artigo poderão ser encaminhadas ao autor e viabilizar a dialéctica em torno do assunto.

FACTOR ÉTNICO é a grande diferença entre Angola e a maioria dos países africanos

A grande diferença entre Angola e a maioria dos outros países do continente tem a ver com o peso do factor étnico: no nosso país, esse peso é muito menor do que aquele que predomina nos demais países.
João Melo *

Dois académicos angolanos, Mário Pinto de Andrade e David Boio, realizaram um inquérito junto dos estudantes universitários locais designado "Estudo sobre Identidade Nacional e Cultural - Pensamento dos Estudantes Universitários" , cujas conclusões, recentemente divulgadas, são extremamente significativas.

As mesmas demonstram aquilo que muitos angolanos, dos cidadãos comuns aos intelectuais, passando por vários dirigentes políticos, costumam afirmar, mas que alguns insistem em ignorar: Angola é um país diferenciado em África.

A grande diferença entre Angola e a maioria dos outros países do continente tem a ver com o peso do factor étnico: no nosso país, esse peso é muito menor do que aquele que predomina nos demais países.

Esse facto objectivo é confirmado pela "hierarquia identitária" observada nas respostas dos inquiridos: os jovens universitários angolanos identificam-se como angolanos, africanos e cidadãos do mundo, por essa ordem. Só depois disso aparece a identidade com base na etnia. Um dado "estranho", à primeira vista, mas que, por isso mesmo, é altamente sintomático, é que, entre os estudantes originários do interior do país, ser "cidadão do mundo" surge antes de ser "africano".

Em termos de línguas, o português é de longe reconhecido como o idioma que melhor representa o país, tanto em Luanda como nas restantes províncias. O kimbundu e o umbundu aparecem depois, consoante a origem geográfica dos inquiridos. O hino e bandeira (que muitos insistem em considerar demasiado "colados" ao MPLA, o partido no poder) são os símbolos com que os inquiridos mais se identificam, a nível nacional.

A religião predominante, segundo o estudo, é o catolicismo. As crenças tradicionalistas (por exemplo, a kanda e a umbanda) praticamente não foram declaradas.

Enfim, os cinco escritores que, de acordo com os estudantes universitários locais, melhor expressam a identidade angolana são os seguintes: Agostinho Neto, Pepetela, Uanhenga Xitu, Luandino Vieira e Alda Lara. Para quem gosta de analisar África sob o estafado prisma da cor da pele, dois desses escritores são pretos, dois brancos e um, mestiço.

Estes alguns dos resultados mais importantes do "Estudo sobre Identidade Nacional e Cultural - Pensamento dos Estudantes Universitários" , acabado de divulgar em Angola. Os mesmos lançam por terra as teses de certos cientistas sociais vinculados à corrente tradicionalista local, como, só para dar um exemplo, a afirmação de que a antropologia e as línguas de origem africana é que definem a angolanidade.

Num país pluri-racial e pluri-linguístico como Angola, essa tese é, para dizer o mínimo, cientificamente equivocada. Do ponto de vista político, pode mesmo tornar-se perigosa.
A verdade é que as imagens e percepções dos estudantes universitários angolanos - as futuras elites do país - atestam uma tese que já defendi em público: Angola é um país de origem afro-euopeia, cuja matriz bantu é fundamental, mas não exclusiva (logo, não pode ser excludente).

O traço realmente estruturante de Angola resulta - sejam quais forem as avaliações políticas e/ou morais que é bom, sem trocadilhos, não branquear - do contacto histórico ocorrido, no espaço territorial que hoje constitui o país, entre os seus habitantes originários e os povos europeus chegados do exterior, como o evidenciam de forma clara e inequívoca as respostas dos inquiridos acerca, por exemplo, da religião, da língua ou da literatura.

Ora, e sem esquecer, como é óbvio, a necessidade de estudar e valorizar correctamente o passado (não apenas os seus ícones, como também os valores e as práticas que se mostrarem adequadas à construção actual da realidade), o futuro de Angola será determinado por aquilo que a sua juventude quiser.
Envio-vos
João Melo, jornalista e escritor angolano, é director da revista África 21

Fonte: http://br.groups.yahoo.com/group/forum_de_angolanistas/

1 comentário:

Anónimo disse...

Se aportarmos da juventude que os meus olhos todos os dias conseguem ver.......então não teremos homens nem mulheres para governar o nosso querido Pais.

BEBIDA A MAIS E NÃO SÓ
NÁO CUIDAM DA NATUREZA, CONSPORCAM OS ESPAÇOS PUBLICOS, HÁ UM ENORME FALTA DE RESPEITO PELAS REGRAS DE CONDUTA....que filhos está a nossa querida terra a gerar............