quarta-feira, dezembro 19

segunda-feira, dezembro 10

Angola - O retrato de uma angolana que regressou a casa muitos anos depois.

Caros leitores,
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O texto que aqui publico resulta de uma troca de e-mails com uma amiga que, em 2004, regressou a Angola para viver e que até então residia em Portugal sem ter oportunidade de visitar Angola durante os anos que esteve fora.
O retrato dela é autêntico na medida em que é espontâneo, ou seja, não foi elaborado para ser publicado mas sim no contexto de trocas de e-mails entre 2 amigos.
Depois de ler o email achei por bem partilha-lo aqui no Blog. Talvez outros possam fazer o seu próprio retrato de Angola e ter coragem de o partilhar também.
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“Oi amigo, ontem estava toda inspirada a escrever-te, quando o sinal falhou... esta é uma das dificuldades que eu não estava habituada. Mas vamos lá de novo...
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Aqui não consigo ter amigos de verdade, porque é tudo uma mentalidade de interesses, fingem ser teus amigos se tu tiveres dinheiro ou se conheceres alguém importante, grrrr.
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Uma coisa que fazia muito aí em Portugal era passear sozinha, ir de férias sozinha, coisa que não dá para fazer aqui porque ou és assaltada ou julgam que estás a procura de homem ou então porque não fica bem a uma mulher, grrr.
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Aqui ainda há muita superstição e praticam-na. O feitiço é o prato do dia, mas como não me meto e nem quero saber como é, isso não me afecta.
Angola é um país muito rico, mas ao mesmo tempo bastante pobre. Porquê? Porque todos querem enriquecer custe o que custar e não olham para o futuro dos filhos ou netos, que isso abrange a evolução de Angola, saneamento básico que é precário, educação péssima e agricultura em vias de extinção, pois só estão preocupados em aumentar o preço de tudo porque julgam que aqui só há estrangeiros, então aproveitam-se....
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Na minha opinião o Angolano não gosta de trabalhar para melhorar o país, mas sim para encher o bolso para borgas todos os fins-de-semana, comprarem carros e roupas caríssimas para se exibirem, mas no fim vais a casa deles e vivem em condições precárias, e por vezes nem comem para se vestirem bem, preferem viver para a sociedade que para eles mesmos. É a mentalidade do Angolano!
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Por um lado compreendo porque foi um país com guerra e ninguém tinha objectivos a traçar nem como traçar, porque tudo que construíam era destruído, mas a guerra acabou e eles continuam com a mesma mentalidade "deixa-me ver se consigo fisgar esta kota, assim tou garantido", quer dizer... é de alguém que não quer fazer nada da vida, e sim chular.
Mas aos poucos as coisas vão mudando. Os Angolanos que viviam fora estão a regressar e eles começam a perceber que a vida não é feita só de copos e sedução... sim... porque as meninas estão um máximo... elas até estragam casamentos sólidos. É a lei da sobrevivência que ainda vai durar um bom tempo.
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(…) Eles (sociedade) não têm garra pelo país, e além do mais são racistas da própria raça. Não conseguem ter uma conversa civilizada que começam logo a falar da escravidão, do racismo, dos pulas, dos mulatos… não fazem nada para mudar essa mentalidade. Sentem-se inferiorizados por parvoíce, já passou tempo... enfim...
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Os governantes também não ficam atrás... podiam dar melhores condições aos angolanos, criarem bairros sociais, mais hospitais públicos para minimizar a pobreza, a mortalidade infantil e idosa. Nós temos dinheiro para isso, mas eles só querem erguer infra-estruturas para inglês ver. O bom para o povo, que é o desenvolvimento do país, não o fazem. Isso e outras coisas mais que se te fosse dizer não havia mensagem suficiente para escrever ihihih.
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Já te estou a cansar com esta conversa...
Espera... Ainda faltam os pontos positivos, que são os mais fáceis.
Praias lindas, províncias maravilhosas, o povo é muito divertido, é umas das características que admiro, com tanta dificuldade e sofrimento como conseguem ser tão divertidos? Admiro-os por isso! Tens a oportunidade de criares um negócio teu, porque este país é um país de negócios, como eu costumo dizer.(…)”

segunda-feira, dezembro 3

Mais um desabafo...

Meus caros,

Desejo-vos bom dia, no entanto sem saber se isso se aplica nos dias de hoje a Luanda.
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Como devem ter reparado, estamos a ser vítimas de algum tipo de complô para nos porem daqui para fora de uma vez por todas ou então é algum tipo de estratégia secreta para paralisar Luanda. O que será que vai na cabeça de quem organizou todo este quadro? Provavelmente foi mais de uma cabeça a decidir, tendo em conta o tamanho da obra. Eu estou a falar das estradas e trânsito em Luanda. Pensava-mos nós que não era possível piorar o trânsito ou a qualidade de vida em Luanda!?
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Estamos completamente despreparados para viver nesta cidade, no meio de tanta coisa, que só me faz pensar em palavras como: Incompetência, descaso, burrice, sujidade, desarrumação, desorganização, corrupção ou serão palavras como, intenção, premeditação, propositado e burrice de novo?
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O que está a acontecer nos últimos dias em Luanda, meus caros, eu poderia dizer que é inadmissível, mas o que acontece é que todos nós admitimos, aceitamos e pior que isso já nos vamos habituando. Já achamos normal andar com carros em cima de passeios, subir e descer montes de entulho, passar por dentro de buracos que não se sabe como não sedem de uma vez até à rede de esgoto, de tão fundos que são. Eles fecharam várias estradas principais de Luanda, ao mesmo tempo. Será isto possível? Se nos dissessem há um tempo atrás que iriam fechar as principais vias da cidade, desde os acessos à cidade, até as vias internas por onde passa a maior parte do trânsito nós não acreditaríamos, provavelmente alegaríamos que isso era impossível e que bloquearia a circulação totalmente e que ninguém seria tão bruto/burro ao ponto de tomar tal decisão.
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Pois é, mais uma vez nos enganamos. E pensamos nós que já sabemos tudo sobre a nossa cidade. Até onde pude apurar, estão a instalar bocas-de-incêndio por toda a cidade. Para isso é necessário cavar, instalar a canalização e depois? Depois, seria normal tapar e asfaltar! Mas aqui fazem buracos e depois deixam-nos abertos para que alguém se espete neles (os que passam em frente dos edifícios públicos são tapados) e depois deixa-se o entulho amontoado, impedindo no mínimo uma faixa de circulação ou acostamento de cada lado. Depois, eles seguem com o trabalho e vão assim bloqueando rua após rua. É uma espécie de xeque-mate aos cidadãos, que vão arranjando escapatórias até que ficam encurralados num canto do tabuleiro, sem mais se poderem mexer e finalmente se renderem. Como diria a sabedoria popular «É demás!».
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Eles bloqueiam as estradas sem pré-aviso, inventam novos caminhos sem sequer pensar se são trafegáveis, juntam nesses caminhos o trânsito de vários lados, o que denota a falta de planeamento e entendimento que existe entre quem faz e quem manda fazer. E denota também falta de conhecimento do trabalho a ser executado. Falta o quê? Será que só a mim é que isso faz impressão?
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Não nos gabava-mos nós de sermos diferentes de outros países onde tudo era poeira e confusão, onde parecia não haver leis e agora estamos iguais? Vamos ouvindo as comunicações de que as obras são para melhorar e que se está a fazer um esforço para melhorar a qualidade de vida. Não temos dúvida nenhuma que a instalação de equipamento de segurança de incêndios numa cidade que não tem água é muito útil, e que a construção de uma estrada, ou qualquer outra coisa do género são para melhorar a nossa cidade e temos todo o interesse em que isso se faça. Mas será que é esta a forma de o fazer? Onde nos cansamos de ver obras sem nenhum tipo de fiscalização, sem nenhum tipo de sinalização para protecção dos cidadãos. Buracos deixados abertos pondo em perigo todos nós, obras iniciadas sem pré-aviso, sem criar previamente as alternativas para que se continue a circulação.
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Deixo este comentário à vossa apreciação e espero que ele seja continuado e acrescentado pelo vosso sentimento.
Comentem se assim o sentirem. Façamos pelo menos com que alguns de nós saibam que existe um sentimento mútuo. Não sei se concordam ou se simpatizam com o meu desagrado, mas penso escrever em nome de alguns.
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Escrevo pelo menos em meu nome e dos meus filhos que julgo merecerem melhor do que nós temos tido e em nome dos meus pais que sempre pensaram que eu ia ter melhor que eles tiveram.
Abraço.
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Eu
Tu
Ele
Nós
Vós
Eles
Todos
Enviado por: Maria Angolana