terça-feira, novembro 28

ANGOLA – Eixo central do tráfico de marfim

Único país com elefantes que não assinou a convenção contra o tráfico, Angola abastece de marfim ilegal a Europa, os Estados Unidos e a China. Face à miséria que ali se vive, este problema não é, de todo, prioritário.

O Café del Mar ostenta a aparência de qualquer outro restaurante caro na Ilha do Cabo (Ilha de Luanda), estância balnear elegante para estrangeiros e angolanos ricos. Tem, no em tanto uma atracção especial: um pequeno mas bem fornecido quiosque de raridades, com filas arrumadas de peças artísticas de marfim, uma lembrança para turistas, actualmente ilegal, mas tradicionalmente muito vendida em África. «É verdade, somos muito populares. Este é o nosso marfim de Angola», afirma o dono da loja.

Apesar de a população de elefantes estar em extinção, Angola emerge como eixo regional no comércio ilegal de marfim. A sua quota no negócio de dentes de marfim duplicou no último ano, segundo um relatório das organizações de defesa da vida selvagem Traffic e WWF Internacional (…)

Este país do Sudoeste africano, rico em petróleo, devastado por quase três décadas de guerra civil, até ao acordo de paz em 2002, foi dado como o país de origem de 53 grandes capturas de marfim em cerca 12 países, entre 1999 e 2003. «Existe um risco real de extinção para os nosso elefantes», diz Vladimir Russo, chefe do grupo ambiental local e um dos maiores especialistas de vida selvagem no país. «O mercado civil do marfim cresceu desde o final da guerra. Há mais trabalhadores chineses com dinheiro para comprar peças de marfim. Mas muitos mais estrangeiros poderão estar a chegar».

Dos 37 países que ainda albergam populações selvagens de elefantes africanos, Angola é o único que não assinou a Convenção sobre Comércio Internacional de Espécies de Fauna e Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção (CITES) (…) em 1981 havia cerca de 12.400 elefantes em Angola (…)
Os rebeldes da UNITA, que combatiam o Governo do MPLA, foram acusados de atacar elefantes e saquear o marfim em longa escala (…) Crê-se que os muitos milhares de dólares assim gerados terão sido usados para comprar armas e mantimentos. DE ACORDO COM A UNIÃO INTERNACIONAL PARA A CONSERVAÇÃO DA NATUREZA, ANGOLA NÃO TEM MAIS DO QUE 246 ELEFANTES.

(…) O marfim é vendido às claras no Hotel Trópico, em Luanda que tem um pequeno ponto de venda no primeiro andar, destinado a diplomatas e executivos. É adquirido no Mercado do Artesanato, na vila marítima de Benfica. (…) Os preços variam 35 e 100 dólares (27 a 78 euros) (…) Os traficantes afirmam que a policia não costuma importuná-los.
(…) Este súbito crescimento da venda de marfim pode, a longo prazo, vir a tornar-se negativo para negócio em Angola. À medida que os elefantes vão sendo dizimados, o mesmo acontece com as expectativas de impulsionar as receitas, atraindo turistas interessados em ver elefantes em estado natural.
«Alguns turistas compram marfim, mas sem a nossa vida selvagem como é que podemos desenvolver turismo?». Pergunta Russo. «A longo prazo o problema é como definir as nossas prioridades», conclui.
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REUTERS - Alistair Pole
In: Courrier Internacional Nº 85 - 17 a 23 de Novembro de 2006

terça-feira, novembro 21

Sonangol confirma negociações para vender posição na Galp

A empresa Russa GAZPROM está preste a adquirir uma posição equivalente a 6,6% do capital da GALP ENERGIA, ao entrar nas empresas que controlam a «holding» AMORIM ENERGIA. Por enquanto os dois principais accionistas desta empresa liderada por Américo Amorim estão a negociar a venda, até 20%, das suas participações.
(…)
Em declarações ao EXPRESSO, o presidente do concelho de Administração da petrolífera angolana SONANGOL, Manuel Vicente, confirmou as negociações (…) A entrada do gigante russo GAZPROM - a maior empresa mundial de gás – far-se-á através de uma cedência mútua da Energia Amorim e da ESPRASA , a empresa que representa os interesses da SONANGOL na GALP e que é detida ainda em 20% por Isabel dos Santos, a filha primogénita do Presidente Eduardo do Santos. (…)
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Gustavo Costa com J.F.Palma


In: Semanário Expresso,18 de Novembro de 2006

domingo, novembro 12

Angola é o país com pior governação do espaço de língua portuguesa

Angola é o país com pior governação do espaço de língua portuguesa. Foi, porém, o que mais melhorias alcançou no ano passado, num "ranking" do Banco Mundial onde Portugal e Cabo Verde são os mais bem colocados dos "8", noticiou ontem a Macauhub.
O estudo "Governance Matters V: World Governance Indicators 1996-2005", que pontua quase todos os países do mundo em matérias que influenciam a qualidade da governação, revela alguns factos curiosos: Portugal tem o governo mais eficaz dos "8", Angola é o país onde há mais corrupção, e Cabo Verde é, entre os países africanos lusófonos e o Brasil, o país com maior estabilidade e Estado de Direito.
De 2004 para 2005 e de uma escala entre -2,5 (mínimo) e +2,5 (máximo), Angola melhorou em quatro dos seis indicadores estudados, sendo a excepção a "Voz e Responsabilização" (para -1,15 pontos) e "Qualidade do Ambiente Regulador", onde regista um ligeiro recuo, de -1,23 pontos para -1,24 pontos. As mais significativas melhorias registaram-se na "Eficácia do Governo" (0,18 pontos, para -0,96 pontos), e no "Controlo da Corrupção" (0,11 pontos, para -1,09), com evoluções também positivas na "Estabilidade Política e Ausência de Violência" e "Estado de Direito".

terça-feira, novembro 7

Saudades da Educação de Outrora

Sempre a mesma saudade de outrora a acossar-me as ideias quando por estas paragens de Luanda vagueio. O filho deste ou daquele anda à solta na boca de todos os que não acataram nada do que um bom berço possa dar, e não me venham com estas coisas de rico ou de pobre porque a educação não se compra: adquire-se se se quiser.

Como digo, os adolescentes daqui preferem o mau comportamento ao bom comportamento. Voltando um pouco atrás, ainda no tempo da outra senhora, curiosamente não gosto muito da frase, quem fosse educado era o “boelo”. Mas é dos boelos que eu gosto.

“Boelos” na rua emprestam a paz de espírito, enquanto os não “boelos” fazem subir a adrenalina de qualquer cidadão. Bem! Devia-me cansar de andar sempre a bater na mesma tecla, mas não. Não senhor, eu não me canso de chamar o bom senso a esta terra tão desamada por aqueles que dizem amá-la.

Amar não e estragar, não é sujar. É construir. E limpar e cuidar! Continuo a fugir do tema. Também uma vírgula aqui ou ali, não faz mal nenhum. Não me refiro às vírgulas que dão alguns homens e mulheres quando apunhalam os parceiros pelas costas. Alguém quis chamar a este tipo de atitude, penso que para suavizar, de uma virgula! Qual vírgula qual quê?
Pronto! Volto ao ponto em que parti. Naquele tempo, meu querido e inesquecível tempo, chamava de tia a mãe dos meus amigos. O respeito era de certa forma uma forma autoritária por parte dos mais velhos.

Acostumamo-nos e seguimos, porque o que mais me ressaltou foi a maneira como educavam os filhos para dar forma coesa á relação entre eles. Ouvi, muitas vezes os mais velhos dizerem que deve educar-se os filhos para que amanhã possam reverter a situação. "Filho (a) és, pai (mãe) serás. É mesmo! Este é o ciclo de vida de toda a humanidade. Parece que entramos numa apatia, num egoísmo, num estado que só permite fazer maldades. O pior de tudo é que os filhos de hoje desprezam os pais depois destes terem cumprido o seu dever. Mesmo não sendo assim, pai é pai, mãe é mãe.

Quero com isso chamar à razão não só os nossos jovens, como os adultos e toda a sociedade para que possamos resgatar os nossos valores ancestrais. Está na hora de cuidarmos dos adultos e protegermos as nossas crianças.
É com muita dificuldade que hoje uma mãe, reparem que falo de uma mãe não por menosprezo aos pais, mas porque quase sempre a mãe é que está presente. O pai demite-se, muitas vezes, das suas funções.

Não é fácil educar um filho a cem por cento, quando a alimentação é deficiente, quando a entrada para o ensino escolar se torna um bico-de-obra, quando as dificuldades fazem-no comparar com o amigo que tem mais possibilidades.
Então vem aí a falta da auto-estima e do bom senso.

O jovem procura resgatar a sua imagem delinquindo. Quanto mais dificuldade mais ele se desintegra da sociedade chamada de normal. E para a sua maior estima procura sempre ser o chefe de uma quadrilha onde se integra. Por tudo isso, ainda lhe resta uma pedra no sapato: a mãe. A sua relação com ela e cada vez mais de afastamento e de faltas de respeito constantes a volta de muitas cobranças.

Na rua é um quebra-cabeças para se afirmar. Encontra outros que também estão à procura de uma afirmação e surgem as rivalidades entre jovens e consequentemente entre grupos que se vão formando e criando ideais que levam aos comportamentos completamente negativos e adversos a sociedade comum ou a sociedade chamada de normal.

As suas regras têm que obedecer a determinados critérios do salve-se quem puder quando para a reposição da legalidade encontram agentes policiais sem habilitação cultural para agentes de autoridade.

Sinto pena dos mais velhos, autênticas bibliotecas vivas, cada um à sua maneira, hoje farrapos atirados á mendicidade, desintegrados, excluídos.
Sinto saudade do tempo da outra senhora onde os mais velhos eram necessários para o legado final, para contarem histórias de vida, para deixarem bons exemplos de cidadão e de cidadania. Mas se a esperança é a última a morrer, vamos mudar o quadro da nossa sociedade que me parece não ter padrão nem balizas sustentáveis para uma sociedade do bem-querer. Mas porque ainda podemos transformar algumas pessoas e porque ainda existem, poucas, pessoas de bom senso que querem ver um pais a crescer, tudo pode ser possível. Em vez de nos vangloriarmos com as riquezas que existem no país sem lhes podermos tocar, vamos à luta pelo bem-estar.

Com palavras, com debates, vamos vestir a camisola de "Um só povo uma só nação" no sentido estrito com efeitos amplos para o povo angolano. E feio o que mostramos ao mundo tanta miséria num pais rico. Parafraseando um dirigente da nação passo a expressão: "Ser miserável num país rico é ser muito estúpido."

Mas não é com muito dinheiro que se ganha uma boa educação. É com boa vontade dos políticos e dos dirigentes.
A todos os mais velhos, o meu grande apreço.
Ai que saudades da educação de outros tempos!

Por: Cho Do Guri
In:http://www.folha8news.com/ardina_ultimas.aspx?ardina_cmd=ver&ardina_topico=CRONICA&ardina_viewer=html&ardina_edicao=826&ardina_id=24&ardina_titulo=Saudades%20da%20educação%20de%20outrora&ardina_area=SEMANAL