segunda-feira, janeiro 30

10encantos.

Repouso deitado num sofá já velhinho do Hotel Delta Phiramids de Cairo. Estou na região de Gize, lá onde o vento gasta força contra a imponência das três representações do saber secular egípcio. Vim do estádio olímpico da academia militar egípcia onde os Palancas Negras maltrataram no pasto os ferozes Simbas do ex-Zaire. Na cama partilhada no quarto de Hotel com um quibalista, solto um grito e um chuto que lhe caiu bem no cú. Era o golo de Angola na Televisão egípcia. Acordo e noto que era um sonho. Exactamente um sonho que contrariava aquilo que tinha acabado de viver minutos atrás. A cama era o acento do autocarro, o quibalista da fiscalização de Luanda tinha sido trocado por um jovem Malanjino, e pior; os Simbas nem deixaram os Palancas pastar.
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Como soldados comandante, os Palancas que acabei de assistir a jogar e a apoiar não fizeram senão fartar-se de falhar golos e deixar que os Simbas trocassem a bola sem a devida oposição que se esperava.
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Notei também que enquanto no lado de lá, no relvado, o pasto se mostrava complicado, no lado de cá, no cimento e plástico, os apoiantes empurravam ao prado os já sem força “antílopes”, mas sem como.
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E no fim, bem no fim, quando, depois do intervalo e os Simbas já sem um compagnion, se esperava pela imponência dos antílopes ruminantes, o pastor não fez mais senão insistir na defesa, causando um desespero total entre os apoiantes que só não atravessaram o campo para pôr o Torra e o Makaba no campo por força dos “alicates faraónicos” disfarçados a apoiantes d’Angola.
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Do “Ou vencemos, ou quê...” passou-se ao “Oliveira, fora”, entre outros gritos que não impediram o nosso “recolhimento” imediato ao aeroporto de Cairo e posterior “desterro”. É que ficara por ser cumprida a missão dos Palancas, enquanto que mesmo cansados e tristes, os excursionistas se gabavam da missão cumprida, tal como os organizadores da tour que tinham prometido mais dois dias em caso de vitória e regresso imediato se o desiderato não fosse atingido.
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Já no autocarro da Ghassist, no aeroporto 4 de Fevereiro, o pedido dos excursionistas a Cairo parecia dirigir-se ao “quem de direito” que nesta altura não estará desatento e a quem aproveito repassar o que ouvi na canção que ditava: - Ou lhe troquem, ou quê.
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POR:
Soberano Canhanga
www.olhoatento.blogspot.com

domingo, janeiro 29

Ministro do comércio nomeia filha de 24 anos para o cargo de director-adjunto.

É de facto preocupante a postura dos nossos governantes!
Nem UNITA nem MPLA! Todos eles olham apenas para os seus bolsos. É desesperante ver o declínio sistemático dos valores de uma Nação como a nossa reduzida a meia dúzia de usurpadores de prepotência desmesurada. Desta vez (sim! Já ouve outras nomeações a familiares), o ministro do comércio nomeou a sua filha de 24 anos, estudante do 3º ano do Curso de informática, no Instituto Superior Privado de Angola (ISPRA), para ocupar o cargo de directora-adjunta do seu gabinete. A caloira inexperiente vai auferir um salário que, segundo o semanário Angonotícias, ronda os 70 Mil Kwanzas (700,00 Euros) mais subsídios diversos e privilégios inerentes ao cargo. A contratação desprezou antigos funcionários seniores, com experiência e muitos anos de casa e dedicação.

Reportagem a ler na íntegra clicando aqui.

sexta-feira, janeiro 27

O Outro Lado de Angola

Foto enviada por Anónimo

As imagens que se seguem ilustram um pouco a outra face de Angola fora de Luanda, sem as poderosas elites económicas, compostas maioritariamente por ex-políticos, políticos no poder e altas patentes militares.
Angola continua com carências indiscutíveis. O dinheiro do petróleo e dos diamantes não chegam a todos, grande parte fica retido nas contas generosas dos governantes e aquele que sobra é desperdiçado em políticas imperceptíveis que pouco beneficiam a população, essa que continua a viver com menos de 1,00€ ou USD 00,82 dia.
Foto enviada por Anónimo


Algures por Angola... uma escola qualquer, numa qualquer comuna, igual a outras tantas por esse vasto e muito rico país.
Foto enviada por Anónimo

Populações sem água potável têm de percorrer km’s e acartar esse bem até suas casas.
Neste momento em Angola, biliões de m3 de água são desperdiçados e debitados no mar sem qualquer aproveitamento.

quinta-feira, janeiro 26

- As Ligações de Corrupção - From: Brasil..... To: Angola*

BRASÍLIA - As investigações sobre o valerioduto devastaram o núcleo central do governo Lula, atravessaram o Atlântico e, agora, podem se transformar num campo minado também para o governo do presidente de Angola, José Eduardo dos Santos. Na busca dos tentáculos internacionais do empresário Marcos Valério de Souza, os investigadores do caso esbarraram em 21 remessas do Trade Link Bank, uma offshore com sede nas Ilhas Cayman, para o ministro das Finanças de Angola, José Pedro de Morais Júnior, e para o presidente do Banco Nacional (o Banco Central daquele país), Amadeu de Jesus Castelhano Maurício, dois dos principais integrantes da equipe económica de Santos. No total foram remetidos para contas das duas autoridades cerca de US$ 2,7 milhões.

Com estreitas ligações com o Banco Rural, o Trade Link Bank está no centro das investigações sobre o suposto mensalão do PT para parlamentares da base, o mais rumoroso escândalo do governo Lula. Mas isso não significa que o valerioduto mandou dinheiro para Angola. O que investigadores acreditam é que o dinheiro enviado para as autoridades angolanas apenas apanhou boleia no mesmo esquema de movimentação de recursos no exterior.
Os papéis não registram quem são os pagadores que recorreram ao Trade Link. Mas os investigadores consideram as operações suspeitas e estão apurando, em sigilo, supostos vínculos de empresas brasileiras, beneficiárias de contratos milionários em Angola, com os políticos locais. Os investigadores querem saber quem autorizou as transferências de recursos e por que o esquema recorreu a uma offshore com sede num paraíso fiscal para fazer pagamentos expressivos a importantes dirigentes políticos.

Pelos extractos bancários obtidos com a quebra do sigilo bancário da Trade Link nos Estados Unidos, a offshore fez 20 remessas no valor aproximado de US$ 2,6 milhões para contas do ministro Pedro de Morais entre 2003 e este ano. As remessas variam de US$ 76 mil a US$ 360 mil. Os documentos oficiais registram que, só em 2003, a Trade fez 12 transferências para Morais no valor de US$ 1,4 milhão.Os recursos saíram de uma conta do Trade Link, no Banco Standard, em Nova York, e seguiram até uma conta em nome de Morais no Banco Internacional de Crédito (BIC), em Lisboa, Portugal. A estratégia mudou nos dois últimos anos, quando a offshore repassou US$ 1,2 milhão em oito parcelas a Morais. Em operações mais complexas, o dinheiro saia de contas da Trade Link no Standard ou no Banco Wachovia e passava pelo BIC, em Lisboa, antes de voltar para uma conta em nome de Pedro Morais no Bank Fund Staff, em Washington.

As relações da Trade Link com integrantes do governo de Angola não param por aí. Nos extractos da offshore consta uma remessa de US$ 176 mil para Amadeu Castelhano, a mais alta autoridade monetária de Angola, no dia 12 de Março de 2002. O dinheiro saiu da conta da Trade no Standard, passeou pelo Banco Africano de Investimentos (BAI), do outro lado do Atlântico e, depois do giro internacional, voltou a uma conta em nome de Amadeus, no Citibank, em Nova York.

A Trade e o Rural são dois dos principais alvos das investigações de uma força-tarefa do Ministério Público Federal, da Polícia Federal, no Paraná, da CPI dos Correios e até da Promotoria Pública de Nova York. As investigações começaram em 1996, no início do caso Banestado, e recentemente se cruzaram com as averiguações em curso na CPI dos Correios. Os parlamentares descobriram que Valério usou a Trade Link para fazer 11 remessas de cerca de US$ 900 mil para a Dusseldorf, offshore do publicitário Duda Mendonça com sede nas Bahamas e conta no Bank Boston, em Miami.

Procurados pelo GLOBO na sexta-feira, José Pedro de Morais e Amadeu de Jesus não foram localizados. O chefe da assessoria de imprensa do Ministério das Finanças, Bastos de Almeida, disse que Pedro de Morais só deve se manifestar depois da publicação da reportagem. Bastos disse que nada sabe sobre as supostastransacções de Pedro de Morais com a Trade Link. Mas alega que, pela legislação Angolana, administradores públicos podem receber até 15% dos valores dos negócios que ajudam a concretizar.

- Há pagamentos que são legais. Nem tudo é corrupção - afirmou Bastos.
Esta não é primeira vez que um escândalo político brasileiro atravessa a fronteira e bate às portas de Luanda. Em 1992, o actual director da Polícia Federal, delegado Paulo Lacerda, instaurou um inquérito para investigar negócios suspeitos do empresário Paulo César Farias, ex-tesoureiro do então presidente Fernando Collor de Mello, com empresários e políticos angolanos.

Ao longo das investigações, Lacerda recolheu documentos mostrando que as empreiteiras Odebrecht e a Servia, duas gigantes do sector, repassaram US$ 7,2 milhões para PC Farias. As duas empresas tinham fortes interesses nas obras de reconstrução de Angola, devastada pela guerra civil. A OdebrechT estava interessada na construção de Capanda, a maiorusina hidroeléctrica do país. A Servia ambicionava abocanhar os contratos de construção de casas populares.
Parte das obras de Capanda seria bancada com recursos de uma linha de crédito especial de US$ 80 milhões do Comité de Financiamento às Exportações, do governo brasileiro. Após o impeachment de Collor e a morte de PC Farias as investigações perderam força.

CORRUPÇÃO É FANTASMA ANTIGO
O Globo
"A corrupção é uma velha conhecida de Angola, que este ano celebrou seu 30 aniversário como nação independente amargando o indesejável título de 151 país mais corrupto do planeta (entre 159 pesquisados, quanto mais alta a colocação, pior a classificação), segundo o relatório anual do Centro de Pesquisa na Internet sobre Corrupção, mantido pela Universidade de Passau, na Alemanha, e pela Transparência Internacional.

Há anos esta organização aponta as principais áreas de corrupção no país, governado desde 1979 pelo presidente José Eduardo dos Santos, do MPLA: petróleo e gás, construção civil e armas. Responsável por 60% do PIB do país - e por 90% do Orçamento do Estado - o petróleo é de longe o sector que mais rende o que a Transparência chama de "pagamento de comissões ocultas".

Em 2002, uma grande reportagem do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigadores (Ciji), organização baseada nos EUA, revelou como funciona o esquema em que o dinheiro público vai parar em contas privadas de membros do governo. Segundo a organização, economistas estimaram que somente em 2000 até US$ 1 bilhão podem ter sido desviados dos US$ 6,9 biliões em petróleo que o país exportou - US$ 2,9 biliões pela estatal Sonangol.

Num dos casos mais emblemáticos, US$ 13,7 milhões foram depositados pela Marathon Oil Company em 15 de Julho de 2000 - segundo o Ciji - numa conta da Sonangol no paraíso fiscal de Jersey, na Europa. A soma representaria um terço do bónus que a companhia americana concordou em pagar à angolana por direitos de exploração de petróleo em Angola. No mesmo dia, afirma o Ciji, a Sonangol transferiu soma idêntica à depositada para uma outra conta em local desconhecido. No mesmo ano, grandes somas ainda foram transferidas de Jersey para contas de uma companhia privada de propriedade de um ex- ministro angolano, uma fundação de caridade do presidente José Eduardo dos Santos e para um banco privado que tem entre seus donos um homem acusado de negociar armas ilegalmente.

Outros descaminhos de dinheiro público, segundo a Transparência Internacional, são os empréstimos garantidos por petróleo, pagos com recursos que fogem ao controle dos fiscais orçamentários.

A organização defende a ideia de que as companhias internacionais devem assumir responsabilidade por sua contribuição à corrupção sistémica em Angola e em outros países da África. Algumas companhias, como a SHELL, a TECAXO e a OCCIDENTAL PETROLEUM, concordaram em assinar um documento intitulado Princípios Sullivan, um código de conduta para firmas que operavam na África do Sul. Mas o CIJI alerta para o fato de que a adopção de um código de ética não significa a garantia de negócios transparentes. "Sejamos realistas. Nenhuma companhia de petróleo que procurar negócios em África pratica um código de ética e princípios transparentes de modo a ter uma vantagem competitiva sobre os concorrentes", argumentou Ho Wang Kim, funcionário do escritório de Angola da companhia ENERGY AFRICA.
Tal realidade levou o deputado Ed Royce, presidente da subcomissão para a África da Comissão sobre Relações Internacionais, a cobrar mais transparência nos negócios do petróleo com Angola e outros países em audiências da Câmara dos Representantes dos EUA em 2002: "A prática de fazer vista grossa enquanto os rendimentos do petróleo são gastos de forma equivocada não é boa (...) para os africanos, e no fim das contas, é um mau negócio para as companhias."
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*Titulo da autoria de MN
http://angolaxyami.blogspot.com

terça-feira, janeiro 24

NO COMMENTS!!!


Kandongueiro* avariado na via que liga Luanda a Benguela!

*Kandongueiro: Termo Angolano, substantivo masculino, veículo de rodas para transporte de pessoas ou bens; viatura táxi sem de taxímetro.

segunda-feira, janeiro 23

Que fizeram dos nossos sonhos, Manuel?

Este post foi enviado através de e-mail por um leitor amigo. A sua publicação esteve pendente até hoje devido ao seu conteúdo, que poderia influenciar de alguma forma aquilo que era opção de voto dos leitores do Blog, que exercem o direito de cidadania em Portugal (votam nas Eleições Presidenciais de Portugal). Agora, depois do resultado do escrutínio, sendo este um espaço sem conotação política, é pertinente a sua publicação e a mensagem diz o seguinte:

Prezado(a) MN

Sou português e não angolano, mas gosto de visitar o seu excelente blog.
O que me traz aqui é o facto de ter encontrado um texto de apoio à candidatura de Manuel Alegre à presidência da República Portuguesa, assinado por Mesquita Brehm. Este texto refere-se a acontecimentos que envolveram Manuel Alegre em Angola, acontecimentos que também fazem parte da História de Angola. Venho por isso propor a publicação no seu blog dos excertos que envio em anexo, a fim de dar a conhecer os acontecimentos referidos aos angolanos que o visitam. O texto completo está disponível no site de Manuel Alegre, em www.manuelalegre.com
As melhores saudações
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Ass: Denudado
www.amateriadotempo.blogspot.com



Que fizeram dos nossos sonhos, Manuel?
[António Mesquita Brehm, 11.10.2005]

(...)
Em 1962 encontrei-me, pela primeira vez, com Manuel Alegre em Luanda. Sacámos o santo e a senha da algibeira para nos identificarmos e, a partir daquele breve instante, metemo-nos numa das maiores aventuras das nossas vidas. Combinámos formar um único grupo com armas na mão e derrubar o regime de Salazar.

A guerra colonial havia começado tempo antes, centenas de colonos portugueses tinham sido cruelmente abatidos nas matas do norte de Angola e alguns milhares de negros sofriam agora perseguições e morte nos musseques de Luanda. A vergastada emocional paralisou os nervos da população. Mas toda a gente lúcida sabia que se tornara imperioso estancar aquele martírio inútil dos nossos povos.
Se tomássemos o poder em Luanda e controlássemos Angola, faríamos um ultimato a Salazar e encetaríamos negociações com os movimentos de libertação para discutirmos as condições da independência do território protegendo não só os direitos naturais dos angolanos como ainda de todos os portugueses que ali viviam.

Foi então, às vésperas do golpe militar, que um oficial nosso compatriota nos traiu (ele e alguns mais) e nos denunciou à PIDE acusando-nos de estarmos a vender Angola às forças de Satanás. Toda a cabeça do grupo revolucionário foi presa e encurralada na Prisão de São Paulo de Luanda. Nas celas pegadas às do Luandino Vieira, do António Jacinto e do António Cardoso, cujos nomes ficaram bem gravados na literatura angolana.

(...)
Pois isto aconteceu muitos anos antes da revolução do 25 de Abril. E teria certamente apontado novo caminho ao futuro de Portugal e de todas as nossas antigas colónias africanas. Os poderes oficiais, e aquela cáfila que deles se aproveita, fizeram uma lavagem da História. Nunca falaram sobre o golpe militar de 1963 em Luanda. Mas o nosso processo policial está fechado a sete chaves, desde há muito, nos Arquivos da PIDE e um dia será detalhadamente revelado para espanto de muita gente. Também eu publicarei mais tarde meu livro de memórias sobre este período da nossa vida colectiva.

(...)
É meu dever recordar a nossa saga de Angola, a figura lendária do Silva Araújo com o seu esquadrão de 500 guerreiros africanos, o major José Ervedosa que, no comando dos aviões de bombardeamento das bases da Ota e do Montijo da Força Aérea Portuguesa lançou as bombas de napalm nos sítios desertos da região de Malange para desrespeitar as ordens de massacrar os milhares de trabalhadores em greve da Baixa do Cassange, o Felisberto Lemos, gerente da Livraria Lello de Luanda, onde se organizaram também muitos encontros clandestinos, o comandante Jeremias Tschiluango dos guerrilheiros do Norte que logo se dispôs a levantar esquemas logísticos para nos ajudar a ocupar Luanda, o chefe Matifoge que roubou armas e munições nos quartéis portugueses.
E aqueles homens como o Vítor Barros, deputado da nossa Assembleia Nacional, que no Huambo nos abriu as portas dos gabinetes dos chefes militares das tropas da cidade, e o engenheiro Fernando Falcão que no Lobito havia preparado o levantamento da sua população contra o regime de Salazar.
E tantos outros oficiais e praças do nosso exército colonial e incógnitos civis que, desde a primeira hora, se integraram no movimento para a defesa da Liberdade.

E também muitos poetas e intelectuais (que palavra horrível) como o Alexandre Dáskalos, o Cochat Osório, o Adolfo Maria, o Henrique Abranches, o Mário António, o Aires de Almeida Santos, o Neves e Sousa, e os nossos camaradas do 1º Encontro de Escritores de Angola realizado no Lubango em Janeiro de 1963. Porque as revoluções também se preparam com poetas, escritores e artistas.

Mas a hora chegara.
E o nosso Manuel Alegre, o nosso grande poeta da gesta portuguesa e da nossa Resistência, foi também então um dos grandes líderes desta revolta armada. E muito deverá contar aos portugueses sobre aquelas horas transcendentes.

Por fim desejo contar dois episódios acerca dele nesse período que nunca esqueci. O primeiro aconteceu no pátio da nossa prisão na hora do recreio quando, de repente, recebemos a visita de São José Lopes, Director Geral da PIDE, que vinha "inspeccionar" o nosso comportamento. Perguntou diversas futilidades sobre a prisão, estacou diante do meu companheiro e disparou: -- "Diga lá, senhor Alferes, se esta situação estivesse invertida e você me tivesse preso, o que faria?". Manuel Alegre não vacilou um segundo e respondeu-lhe com firmeza: -- "Olhe, senhor Director, mandava-o prender sem hesitações para ser julgado e depois condenado, sem dúvida". São José Lopes, o senhor todo-poderoso da polícia secreta em Angola, ficou perplexo. Não esperava por tal desafio, esteve algum tempo calado e depois sentenciou: -- "O senhor Alferes é um homem de coragem". Qual seria o preso, naquelas condições, que o enfrentaria com tal dignidade?

O segundo passou-se em minha casa quando fomos libertados, muitos angolanos nos vieram saudar. Recordo que nessa noite de alegria os funcionários negros da Texaco (a estação de serviço ao lado) nos bateram à porta para nos entregar duas galinhas vivas e era essa a singela homenagem de agradecimento pela luta que sempre travámos junto deles. Foi um bonito ritual de que só, muitos anos depois, entendi no seu verdadeiro significado. Madalena, minha fiel lavadeira da Vila Alice, a pequena Lídia que se esgueirava pelos becos com nossas mensagens, Simão, o carpinteiro do Rangel, que dirigia o grupo dos batedores do bairro e alguns outros, lá estavam presentes à nossa espera, as bocas rasgadas no melhor sorriso que vi até hoje. Manuel Alegre ficou com as lágrimas a brilhar de emoção quando eles o abraçaram. -- "Somos todos irmãos", lhes disse. "Um dia os nossos povos caminharão sempre juntos".
(...)

sábado, janeiro 21

BEIJOU MILHÕES DE HOMENS E MULHERES NA BOCA

“Nós nos conhecemos quando era 15”, dizia o mestre pintor ao seu ajudante. E o mestre pintor o falava com bastante emoção, tanta que denotava doces lembranças de um passado recente na companhia dela, a baixinha, acastanhada, molhada, a quem ansioso agarrava nas horas mortas, no fim de mais um dia de trabalho, durante o fim de semana, etc.

Se perguntasses a quem naquele momento passasse e ouvisse a passagem acima citada, quanto à tal personagem conhecida quando 15, talvez pensasse numa moreninha bem feita. Quero dizer: pele macia, corpo de viola e um rosto tão bem desenhado que evidenciasse a atenção que o Senhor Criador dispensou quando a esculpiu. Afinal, uma das vantagens da colonização foi ter trazido, à Angola, cabo-verdianos que encheram Benguela de lindas morenas. Mas, na verdade (e desculpe a desilusão), não era da “quinzinha” que estavam a falar; ou melhor, falavam duma “quinzinha” que agora já é a “cinquentinha”, mas que antes teve de passar por “trintinha”, uma assim tão popular como as catorzinhas. O que eu penso ser surpreendente é o facto de ela só existir há menos de 5 anos na província de Benguela, mas já ter beijado milhões de lábios de homens e mulheres. Vadia, promíscua… apetitosa.

Não sei se é por ela ser amiga da maioria que a intitularam de “a Nº 1”, já que deste número só tem desgraças e estragos. Voltando à conversa dos dois colegas de profissão, o ajudante e o mestre pintor, afinal estavam a referir-se à Cuca, cerveja em garrafa fabricada pela Soba-Sociedade de Bebidas de Angola, na vila da Catumbela, produto da BGI.

No Umbundu, a minha língua materna, o som “kuka” tem forte relação com “okukuka”, que significa envelhecer. Será por isso que os miúdos estão a ter corpos de empresários, principalmente na barriga? Caras empapuçadas, mentes cansadas, enfim, será aí que ela nos leva, ao envelhecimento precoce? Poucos pensarão assim, e também p’ra quê chiar muito, se então a nْ 1 é querida por todas as faixas etárias, sem excepção? Atenção, por respeito à ciência, justo seria abrir uma excepção para os bebés… mas como, se até os fetos cucangolam? P’ra quê e quem sou para discordar da realidade?

Ainda volto a reflectir um pouco na passagem da conversa do mestre e o seu ajudante. Para mim, a graça e ao mesmo tempo tristeza reacenderam quando descobri que as palavras do mestre pintor subentendiam uma grande vitória pela perseguição, sem trégua, infligida ao processo de subida de preços da Cuca ao longo dos tempos, desde os 15.00 kz até aos actuais 50.00 kz. A célebre frase “o monte é cem”, entenda-se do monte três cervejas, ainda respira em nossas mentes, tanto como respira a conjugação transitiva directa “cucangolo, cucangolas, cucangola, cucangolamos, cucangolais, cucangolam”. A Catumbela, com tantos problemas sociais que tem, a mesma que se cansou de lutar pelo estatuto de município, ascendeu à categoria de “capital provincial… da cerveja”.

A estrada é estreita, o número de carros e o de acidentes crescem na província, particularmente no troço Lobito – Benguela. “Se beberes não conduza, se conduzires não beba”, a velha máxima de estrada é cada vez mais moribunda. Tão bom seria ver isso também numa placa ao lado dos mais de cinco placares publicitários da “nossa” cerveja, bem vistosos ao longo da via, quando não se vê nem sequer uma publicidade fazendo alusão, por exemplo, à epidemia do século VIH/SIDA, ou do tipo “estudar é produzir” (saudosismo à parte) ou “a criança é o garante do amanhã”, ou “democracia é escolher livremente”…

Nós, Angolanos, precisamos nos divertir e entretermo-nos para se ultrapassar as marcas da guerra. Mas quando alguns já querem condicionar as suas capacidades de raciocínio pelos efeitos do álcool, ignorando voluntariamente a necessidade de segurança e de desenvolvimento, hei…alto ali!

Lobito, 11/11/2005 / 1h:10m
Autor: Lofa Kakumba
Adaptação Gociante Patissa, 22 de Novembro de 2005

quinta-feira, janeiro 19

NO COMMENTS!!!


Letreiro numa rua do Bairro Rocha Pinto.
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LUANDA

quarta-feira, janeiro 18

A CAMPANHA ELEITORAL JÁ COMEÇOU!!! PARTE III

Tal como anteriormente, em dois posts publicados neste espaço – A campanha eleitoral já começou – I, II – eu referia que a campanha em Angola já tinha começado. Hoje, depois de ler a notícia do alegado desvio de 15 milhões de Dólares dos cofres do Ministério das Relações Exteriores, por altos funcionários, publicada pelo Jornal on line “Angonotícias”, reafirmo que ela está aí e é para continuar mesmo antes do anuncio oficial da data para a realização das eleições. Só isso explica a iniciativa do Presidente angolano em mandar o Ministério das Finanças investigar possíveis desvios no Ministério das Relações Exteriores!
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Não quero ser injusto nem criticar por criticar mas pergunto, só agora é que o Presidente angolano deu conta que se desvia dinheiros públicos dos vários Ministérios em Angola? Creio que não, e a sua atitude nesta altura só se explica por razões eleitorais, para mostrar serviço ao Povo. Não acredito noutro motivo que não seja este. Poderá também ser a eliminação política de um “peão” que deixou de ser útil ou desrespeitou as “regras do jogo” ou os montantes ”autorizados” a desviar pelo chefe máximo ”Rei” do jogo.
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Alerto aos angolanos para que não se deixem enganar e que aproveitem as próximas eleições, caso se realizem, para mudar a classe dirigente que enriquece enquanto o Povo morre à fome!
Por último, gostava de saber se de facto for provado que estes desvios aconteceram e que os acusados (Embaixador de Angola num país Africano e outros altos quadros) são culpados, qual o desfecho desta contenda?
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Por:
O'MBAKA
Para aceder na íntegra ao conteúdo desta notícia, click aqui

terça-feira, janeiro 17

O SUPER-HOMEM...

· Confunde governar com reinar, como se o país estivesse refém de um homem só!

· É dotado de poderes quase divinos, pois só assim se entende que o primeiro-ministro não seja o chefe de Governo, porquanto este exercício lhe compete!

· Cabe-lhe dirigir e orientar a acção do primeiro-ministro, dos ministros, dos governadores de província e demais membros do aparelho do Estado!

· Tem o poder para nomear o primeiro-ministro, convocar e marcar eleições, dirigir mensagem à Assembleia Nacional, nomear quase todos os membros das instituições do Estado, entre outras!

· Contrai empréstimos duvidosos que hipotecam o País e endividam as gerações futuras.

NOTA: Qualquer semelhança entre o Super-Homem e um personagem real é pura coincidência!

domingo, janeiro 15


Viva!
Aqui vai a foto de um letreiro à saída de Luanda, numa viagem que fiz a Benguela.
Abraços,

Hugo Fontes

sexta-feira, janeiro 13

Do livro “Another day of Life”

Este post foi enviado por email, e o leitor que assina com a letra "K" diz o seguinte:
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Gostaria de partilhar um excerto de um livro muito interessante escrito por um jornalista polaco que esteve em Angola na altura da Dipanda*. Aconselho fortemente a lerem. Este excerto não reflecte o carácter do livro mas da para ter a percepção de uma opinião estrangeira e independente sobre o nosso país.

“For several centuries Portugal directed its best elements to Brasil, its worth to Angola. Angola was a penal colony, the place of deportation for all manner of criminals and outcasts, for all those on society’s fringe. In old Lisbon, Angola was referred to as the país dos degradados, the country of the deported, the expelled, the finished. The low quality of Angola’s colonists helped Angola become one of the most backward of African countries.”
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*Independência
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Do livro “Another day of Life”
de: Ryszard Kapuscinski.

quarta-feira, janeiro 11

113

O relato seguinte aconteceu na noite de 25 de Dezembro, tal qual como a seguir descrevo:

Andava eu a passear de carro, à noite, pelas ruas de Luanda mal iluminadas e sinalizadas (mas já com muitas melhorias), quando numa qualquer rua na zona da Marginal de Luanda faço pisca à direita sem me aperceber da existência de um sinal que me proibia de efectuar tal manobra. Entro numa rua em sentido contrário e depois de andar alguns metros sem criar nenhum tipo de perigo aos utentes da via nem aos ocupantes da minha viatura, porque era uma hora morta da noite e porque era um dia calmo, apercebo-me pela orientação dos carros estacionados, que estava em sentido contrário.

De imediato inicio a manobra de inversão de marcha para poder corrigir o erro e é então que sou abordado por três agentes da Polícia Nacional, armados com armas de fogo (modelo AK 47), que me pedem os documentos da viatura e os meus. Prontamente entrego e explico que estava consciente do meu erro e que por não residir em Luanda desconhecia as ruas e a posição dos sinais. Os agentes meios embriagados apreenderam-me imediatamente os documentos todos alegando que eu tinha cometido uma infracção de trânsito, teria de pagar uma multa de 8.000.00 Kzs (100.00USD) e que a minha carta iria ficar retida.

No meu melhor, tentei com alguns argumentos dissuadir os agentes alegando que tinha eu próprio dado conta do meu erro e não era um prevaricador, conhecia o código de estrada, estava legalmente habilitado a conduzir e porque a sinalização era deficiente e porque o local onde se encontrava o dito sinal estava escuro não o tinha visto. Tentei também alegar que a função da polícia não era só punir mas também ter sensibilidade e sensatez para poder resolver conflitos quando não está perante um prevaricador. Foram infrutíferas as minhas tentativas, não consegui demover os agentes que em excesso de zelo queriam a toda força que eu fosse parar à esquadra para pagar uma multa de alegadamente 8.000.00 Kzs por ter andado 100m em sentido contrário.

Entre a intervenção dos agentes e os meus argumentos já se tinham então passados 30min. Cansado e um pouco assustado porque eram altas horas e naquela via apenas se encontravam os ocupantes da minha viatura, eu e os agentes, decido então ir até a esquadra para verificar se de facto o valor da multa era esse mesmo e na esperança que o(s) agente(s) da esquadra tivessem outro tipo de formação e fossem mais simpáticos. É nesta altura que os agentes mudam o discurso e dizem que podemos evitar a ida à esquadra, a multa e a apreensão da carta se eu lhes der “boas festas”*. Apercebi-me que toda aquela confusão não era mais do que a luta por uns Kzs, para umas Cucas** ou para um saldo. Perguntei que quantia queriam e negociei com eles, tudo ficou resolvido localmente.

Quando cheguei a casa e contei o sucedido aos kotas estes ligaram imediatamente para o número de Emergência da Policia Nacional (113) relatando todo o episódio de que tinha sido vítima. Os agentes da linha, mais bem formados e mais condescendentes, pediram a identificação dos agentes em causa, para poderem “averiguar e talvez puni-los”, mas eu não tinha a identificação deles porque não estava informado que poderia fazer queixa deles e que de facto a queixa iria ter algum seguimento.
Acho que a muitos de vós já aconteceu algo semelhante. Espero que este meu relato ajude a acabar com estas tristes e lamentáveis situações. Ficam desde já a saber que quando assim for e se sentirem extorquidos ou abusados pelo poder da farda, podem a qualquer momento (24h dia/ 365 dias ao ano) telefonar para o 113 e denunciar estes e outros casos semelhantes, desde que tenham a identificação dos agentes.

Na altura senti-me zangado com os agentes meus irmãos de sangue (angolano) que me extorquiram uns quantos Kz, abusando do estatuto de agentes da ordem e defensores dos cidadãos que sob a bandeira juraram proteger a soberania do território e a pátria. Mas passados alguns dias e já mais calmo penso de outra forma. Não é com eles que devo me sentir zangado mas sim com o responsável pela presença deles a patrulhar as ruas, que não lhes dá um salário digno para sobreviverem numa das cidades mais caras do mundo, e porque o exemplo vem de cima e eles são a “raia miúda” que faz o mesmo que os chefes do país.
Infelizmente quem paga a factura somos sempre nós!!!

* Acto de dar determinada quantia monetária. Hábito instituído pelos funcionários públicos e outros em Angola.

**Cerveja Nacional.

terça-feira, janeiro 10

Este autocarro (BUS), é um dos meios de transporte que faz a ligação entre a capital de Angola (Luanda) e a província de Benguela.
Transporta no seu interior pessoas, animais vivos e outras mercadorias.
EX: Bidons de combustível, galinhas, cachos de bananas, sacos de carvão, cabritos, etc.

segunda-feira, janeiro 9

Estou de volta!!!

Um kandando a todos! Espero que tenham entrado neste novo ano com o “pé direito”!
Estou de volta… e confesso, com saudades deste nosso canto “Desabafos Angolanos”!
Peço desculpa pela minha ausência mas infelizmente as circunstâncias não permitiram actualizações, estive na Banda e regresso com comichão no dedo para escrever sobre tudo o que vi, senti e me aconteceu…

Dêem-me tempo para organizar as ideias, voltar à rotina da vida e logo logo surgirão os “posts” com todas as novidades!

Até já… FELIZ 2006!