quinta-feira, março 30

Caros amigos leitores,

No seguimento de algumas reclamações e falsas acusações chegadas até ao endereço electrónico e também em outros espaços deste Blog, sinto-me obrigado a prestar alguns esclarecimentos que têm como alvo todos aqueles que não enxergam além da bajulação partidária. Está na hora de deixarem de olhar para os vossos umbigos e interesses e olharem para o povo, o povo de Angola!!! Por amor a pátria e não a um partido!!!

Em anexo segue um dos muitos e-mails/reclamações e respectiva resposta. E-mail que foi seleccionado entre vários porque apresenta uma opinião razoável e não contém linguagem imprópria. É dos mais simpáticos que recebi. Acreditem!!!

Desta forma, espero que se acabem com as acusações mais descabidas que tenho sido alvo, eu e o espaço “Desabafos Angolanos”, e que se perceba de uma vez por todas que este é um espaço que não foi concebido para adulterar a imagem de Angola mas sim de critica, aberto a todos que queiram participar com os seus textos. (Desabafos)

ANEXO
“Olá!
Sou angolana e vivo mesmo em Luanda, gosto por demais do nosso pais, por isso tento fazer o possível por saber o q dizem de Angola e como anda a sua imagem no mundo. Já li algumas das matérias feitas por vocês e estou a gostar do trabalho que têm efectuado. Só queria salientar que devemos acima de tudo mostrar ao mundo (pk acredito q este site n é apenas visitado por angolanos e, mesmo q fosse muitos deles q se encontram fora pouco ou nada sabem do pais) que melhorias têm sido feitas e, que o país precisa do apoio de todos nós p um melhor avanço político, económico e social.
Desta forma acho que se devia fazer mais matérias sobre os esforços já feitos por parte do governo e fazer uma campanha de forma a despertar todos os angolanos p unir forças e lutar por uma Angola melhor.
Muita gente diz «isto já podia estar melhor...», mas esquecem que a guerra que acabou foi a das armas, agora há outras guerras a enfrentar, como a da fome, saúde, alfabetização entre muitos outros problemas existentes. E, para isto não podemos só esperar que o governo ou as autoridades o façam, temos que nos unir e contribuir.
Volto a dizer que gostei imenso do vosso trabalho e se puder fazer alguma coisa ou ajudar no vosso trabalho estou as ordens.
Melhores cumprimentos.”

RESPOSTA
“Cara amiga,

Em primeiro lugar quero agradecer pelo facto de ser leitora deste blog e obrigado também por escrever as suas preocupações que, no seu todo, são legítimas e justificadas.

A intenção deste Blog não é a de demonstrar que Angola é bonita ou desgraçada. É o Blog de todos os angolanos, onde se fala de tudo um pouco, do bem e do mal. Tento que este blog tenha conteúdos actuais e que sejam de utilidade para o leitor visitante. Infelizmente as pessoas escrevem para o blog com matérias que de uma ou outra forma apenas mostram os podres de uma sociedade emergente e ineficaz que não tem voto na matéria, não participa em nada que diz respeito aos destinos do país. (De certo que a amiga nunca votou e nem sabe quando irá ter essa oportunidade!)

Contudo a beleza de Angola já é muito conhecida além fronteiras. No blog podemos encontrar vários links que nos levam a visitar álbuns e galerias de fotos que são de encantar qualquer um. Seja angolano ou não! Mas desde já convido-a a escrever um post com um tema a sua escolha, dentro do propósito que motivou a sua critica.

Não quero passar a imagem que este blog existe para denegrir Angola, minha terra mãe, minha casa! Apenas não gosto de tapar o Sol com peneira e por isso vou desabafar com tudo aquilo que acho errado, e é isso que temos feito neste blog, alertar para males que todos sabemos que existem mas que nunca falamos e fingimos que não vemos e não ouvimos.

Estou de acordo quando diz que devemos mobilizar-nos, em todos os sentidos, para levarmos o nosso país a bom porto. Eu estou a fazer a minha parte com este blog. Considero que apontar as enfermidades é um bom caminho, porque quem tem a cura poderá através deste espaço localizar a infecção e aplicar o antídoto no devido local.

Neste blog fala-se, entre outros, de política mas não se partidariza. A amiga pede que o blog elogie os feitos do Governo (MPLA) depois da guerra. Infelizmente não irá ser possível pois somos isentos de cores partidárias. Se fosse a UNITA ou a FNLA ou outro qualquer partido no poder iria agir com a mesma conduta. Denunciar tudo aquilo desacertado que chega aos meus ouvidos e olhos. Mas atendendo ao seu pedido abrirei uma excepção. Se a amiga souber de algum feito do MPLA que tenha efectivamente melhorado a vida dos angolanos (excluindo aqueles que são da família MPLA) aguardo ansiosamente pelo seu texto.

Com os meus melhores cumprimentos,

Um abraço amigo,

M.N”

segunda-feira, março 20

Tentativa de extorsão no Aeroporto Internacional de Luanda (4 de Fevereiro)

Preparávamo-nos para embarcar, vivíamos aquela agitação própria de quem está de malas feitas no Aeroporto de Luanda, a nostalgia pairava no ar… Quem vai já tem saudades da praia, do calor, da fruta, da família e dos amigos que ficam e já só pensa no trabalho e aulas que tem que recuperar e também nas contas que vai encontrar no correio quando chegar ao destino.

Tanto stress: o check in que nunca abre a horas, os espertos que furam as filas, os agentes que nos reviram a mala a procura de sabe-se lá o quê, e depois riscam-nas com giz branco. A luta com o excesso de bagagem e o medo de saber se teremos ou não lugar, porque muitas vezes mesmo com OK no bilhete ficamos em terra pois um qualquer com influência nos passou a frente à última hora! Os documentos em dia e devidamente preenchidos, os talões de recenseamento militar… e outros tantos papéis que nos pedem, enfim…

Já tinha passado o balcão de imigração e dirigia-me para o segundo posto de segurança (mais uma revista), lá finalmente usa-se tecnologia. Temos alguns agentes, um que fica a controlar o monitor da máquina Raio X ou Infravermelho - desculpem a minha ignorância - e outro que fica no detector de metais. (este posto é de vital importância porque faz a triagem dos objectos perigosos a bordo)

Aí, encontro uma amiga a ser “penteada” por um agente! Ela tinha toda pinta de turista que veio pela primeira vez a Angola. (preza fácil) Era caucasiana, de pele muito clara, com sardas e sotaque de gente de fora! Nada fazia prever ao agente que se tratava de uma nativa com calos nesse tipo de situações que nos querem extorquir.

Apercebo-me que ela levava dentro da sua bagagem de mão alguns cosméticos para consumo próprio, de origem brasileira, que em Angola havia em abundância mas que no país de destino ela não encontrava. Levava a provisão suficiente para aguentar até a próxima vinda a Angola. (Nunca se sabe ao certo quando voltamos à terra mãe. Passagens muito caras e compromissos laborais são sempre os maiores impedimentos.)

O dito agente queria que ela pagasse direitos alfandegários sobre os produtos que ela levava consigo ou então teria de os deixar todos em terra! Aproveitou ainda para lhe “explicar” que cada passageiro podia apenas levar na sua bagagem um perfume, um desodorizante, um creme …, ou seja, não podia levar nada em dobro, como era o seu caso. Explicação esta que fez soltar uma gargalhada à rapariga…

Já estavam ali em debate, pelo menos uns 10 min., quando eu cheguei e apercebi-me do pequeno sururu.

Ela tinha traquejo mas desconhecia, ou não se lembrava, que nunca se paga direitos aduaneiros de um produto a saída de um país! Esse produto que ela consumia já tinha sofrido taxas alfandegárias quando entrou no país, exportado do Brasil, por esse motivo era ilegal o que o agente pedia.

Estava um pouco assustada, já se embarcava e ela ainda ali com aqueles problemas de última hora. O saco dela retido pelo agente que a todo o custo exigia uma quantia pela qual não iria passar recibo nenhum.

Com o seu traquejo e atitude firme, lá conseguiu depois de muito paleio prosseguir normalmente a sua viagem. Sem pagar nada daquilo que ele exigia, porque entretanto o agente deu conta que dali não sacava nada.
Final feliz para ela! Mas pergunto-me:
- Quantos já não caíram nessa?

Espero que os leitores que se desloquem a Angola, e se virem numa situação idêntica, se lembrem que os únicos direitos aduaneiros que se pagam são cobrados à entrada do país e nunca à saída.

“Em parte consigo entender um pouco o oportunismo do agente em causa! Ele recebe um salário mísero que não chega a meio do Mês e vê os filhos dos chefes a passarem por ele, todos bem vestidos e cheios de divisas nos bolsos. É a oportunidade que ele encontra para conseguir facturar mais algum!

Enquanto as pessoas não receberem salários dignos, em Angola continuará a haver muita gente a extorquir e corromper-se!

Infelizmente em Angola também há o reverso! Gente rica a extorquir e a corromper-se por ganância excessiva!!!”

quinta-feira, março 16

Tira-se fotografias...

Palhote situado na saída do Bairro da Bela Vista - Lobito.
Clicar na imagem para ampliar.

segunda-feira, março 13

Troca de Papéis

Imaginem que a TPA mesmo com o seu canal Bis passou a alternativa cedendo o primeiro lugar à Multi-escolha.

Os geradores, que eram alternativos, passaram a número um trocando com a EDEL.

Os carros cisternas trocaram de posição com a EPAL que virou alternativa.

Os autocarros públicos perderam o lugar cimeiro para os kandongueiros. São agora alternativos.

As casas de câmbio e os bancos comerciais perdem contra a eficiência das kinguilas.

As conservatórias e os serviços oficiais do Estado perdem lugar para os falsificadores do Palanca e do Pau Grande do Cazenga no tratamento de documentos essenciais.

As escolas e hospitais públicos perdem lugar para colégios e clinicas privadas.

E há tantas e tantas outras trocas de posições...

Por: Soberano Canhanga
In: www.olhoatento.blogspot.com

domingo, março 5

A perigosa profissão de Mãe em Angola

A agência noticiosa IPS, especializada em assuntos relacionados com o Terceiro Mundo, distribuiu uma notícia arrepiante sobre condição de mãe em Angola.
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Por: Karen Iley
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Luanda, 28 de Fevereiro de 2006

A falta de educação pré-natal e o difícil acesso a cuidados médicos fazem com que a gravidez e o parto sejam particularmente perigosos para as mulheres de Angola. (…) Ao entrar na maior maternidade de Luanda, capital de Angola, o que primeiro chama a atenção do visitante é o cheiro nauseabundo que mistura sangue e excrementos. Quando o estômago se acostuma e os olhos se ajustam à escassa luz da Maternidade Lucrécia Paim, começa a revelar-se em toda a sua magnitude uma paisagem de paredes rachadas e janelas partidas.

Uma mulher em avançado estado de gravidez, com fortes dores, incapaz de encontrar alívio, anda de um lado para o outro no corredor, amarrando e desamarrando o seu sujo sarong (saia tradicional). Não usa roupa interior, enquanto se encosta a parede, exausta e queixando-se, o sangue escorre entre as suas pernas até ao chão. Ninguém a ajuda… nem mesmo uma palavra amável… ninguém limpa o sangue… O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) informa que para cada mil partos 17 mulheres morrem em Angola. A possibilidade de uma Angolana morrer na gravidez e no parto é de 1 em 7, muito superior à média de 1 em 16 para toda África subsariana e muito pior do que a média de 1 em 2000 das europeias e de 1 em 3000 das norte-americanas.

(…) O país desfruta agora do seu quarto ano de paz, mas ainda sofre de uma generalizada carência de instalações de saúde básicas. Além disso, as estradas são intransitáveis por causa da péssima conservação e pela presença de minas terrestres não detonadas, o que torna inacessíveis os poucos serviços existentes para a população de vastas áreas distantes das cidades. (…)

(…) “Faltam instalações, mas as mulheres também procuram ajuda tardiamente”, disse Maryse Ducloux, coordenadora assistente do ramo Belga da Organização Médicos sem Fronteiras. Muitos partos ocorrem sem assistência técnica e, por essa razão, complicações comuns acabam em morte. (…)

Angola apresenta uma lista quase infinita de necessidades muito graves relativamente à saúde materna. (…) O panorama é desanimador num país onde muitas mulheres carecem de acesso à educação e de maiores perspectivas para além da maternidade. As mulheres em Angola têm em média, 7 filhos. 70% Dão a luz ao primeiro quando ainda são adolescentes. A informação sobre planeamento familiar é escassa. Quem exerce medicina nestas áreas considera que as mulheres dispostas a utilizar anti contraceptivos ou a espaçar os nascimentos enfrentam o desagrado dos seus companheiros, que costumam ver esse desejo como uma afronta à sua virilidade.

Na Maternidade Lucrécia Paim, Teresa Miguel (nome fictício) sofre as consequências da falta de investimento na saúde, ao acompanhar a sua irmã mais nova, Lúcia, de 21 anos e grávida do 2º filho. A sua família vive em Viana, um Bairro pobre perto do centro de Luanda. Apesar da curta distância, Lúcia chegou ao hospital muito tarde… a menina nasceu morta. Com lágrimas correndo pelo rosto, Teresa Miguel, coloca a sua cabeça entre as mãos e reza em voz alta com a sua irmã, ainda na sala de imergência e com hemorragia. As enfermeiras mandaram-na comprar remédios para a irmã, mas de tão aflita não sabe o que realmente comprar nem onde ir, poucos minutos depois está de volta a sala de emergência muito nervosa e com as mãos vazias.

Uma jovem de 16 anos olha-a com ansiedade enquanto acaricia o seu ventre inchado. “Se uma mulher não tem dinheiro para comprar os remédios e as gazes, não consegue tratamento”, conta, apertando na sua mão uma nota de 200.00 Kwanzas (2 €). Ela, Lúcia e a mulher que preambula pelo corredor deixando sangue pelo chão podem ser consideradas afortunadas. Pelo menos vivem perto e têm acesso a cuidados básicos. A maioria das mulheres no vasto interior de Angola frequentemente têm de se virar sozinhas.
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Artigo cedido gentilmente por:
Denudado
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Não bastava já sermos o segundo pior país do Mundo para se nascer, também as nossas mães têm de sofrer? Até quando Angola???

quinta-feira, março 2

NO COMMENTS

2 Dólares é com quanto vivem por dia 800 Milhões de pessoas em África e é o valor do subsídio diário para 1 vaca europeia, ao abrigo da Política Agrícola Comum.
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Fonte: Selecções Reader's Digest. Fev/2006