É evidente que a estratégia norte americana para o Golfo da Guiné não se pode limitar à ênfase que o nóvel AFRICOM, o Comando África do Pentágono que continua com sua chefia instalada na Alemanha, (apesar dos esforços de toda a ordem visando a sua instalação em África), passou a ter, com a deslocação do USS Fort McHenry (LSD 43) e do navio experimental HSV-2 SWIFT para a região, a fim de serem utilizados, o primeiro, durante seis meses, como “África Partnership Station”, e o segundo como “atracção tecnológica”, visitando um a um todos os países com litoral oceânico.
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Muito antes da criação pela administração republicana de George W. Bush, do AFRICOM, já os Estados Unidos, interligando a diplomacia com os interesses económicos das grandes corporações norte americanas presentes em África, privilegiavam os nexos com aqueles que operavam em vários sectores da indústria mineira, na indústria de prospecção e exploração de petróleo e com os operadores prestadores de serviços, influentes até na super estrutura do poder em Washington, (seja com o concurso dos republicanos, seja com o concurso dos democratas), a fim de garantir relacionamentos bilaterais e multilaterais com os países africanos, de norte a sul.
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A Halliburton e a sua subsidiária até 2007, Kellog Brown & Root, multinacionais que têm como referência a figura de Dick Chenney, vice-presidente dos Estados Unidos, fazem parte do conglomerado de corporações norte americanas já com historial em África, seja quando estão no poder republicanos, seja quando estão os democratas.
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Elas têm distribuído a sua actividade a nível global, não só em suporte das multinacionais do petróleo, mas também em função de outros desempenhos civis e militares, no âmbito dos interesses interligados que suportam os relacionamentos de Washington, não só por via pacífica, mas também nos seus esforços de guerra, por todo o planeta.
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A 5 de Março do ano corrente, um analista do Global Research no Canadá, Andrew G. Marshall, publicou uma investigação-síntese, sob o título “Martial Law, Inc”, em que realçava as actividades da Kellog Brown & Root desde a década de 40 do século passado e particularmente desde a guerra do Vietname.
.No que diz respeito a África o investigador do Global Research do Canadá fornece a síntese da presença do KBR nos acontecimentos do Ruanda e da República Democrática do Congo.
.No que diz respeito ao Ruanda, o investigador, que se apoiou nas revelações de Wayne Madsen sobre o derrube do avião que transportava os presidentes do Ruanda e do Burundi, conforme as investigações também levadas a cabo pelos Franceses em 2004, indicou que houve um estreito relacionamento nesse acto, com os operadores ruandeses (tutsis) enquadrados no Rwandan Patriotic Front de Paul Kagame, da International Strategic and Tactical Organization, que representava “poderosos interesses políticos e corporativos” incluindo os da Armitage and Associates LC, uma firma fundada pelo antigo Adjunto da Defesa de George W. Bush, Richard Armitage e a Kellog Brown & Root.
.Em 1994, na sequência da instalação do governo do Rwandan Patriotic Front no Ruanda, o KBR beneficiaria dum contrato sob a denominação de “Operation Support Hope”, no valor de 6,3 milhões de dólares.
.Desse enredo, segundo o mesmo analista, houve três beneficiários em 1994 e um beneficiário em 1995:Paul Kagame, que se viria a tornar Presidente do Ruanda, Kofi Annan que se tornaria Secretário Geral da ONU e Madeleine Albright, que seria Secretário de Estado durante a governação democrata de Bill Clinton. O próprio Dick Chenney tornar-se-ia CEO da Halliburton de 1995 a 2000.
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Em relação à República Democrática do Congo, sob os auspícios ainda da International Strategic and Tactical Organization e explorando o êxito da operação do Ruanda, a KBR construiu uma base militar junto à fronteira Congolesa-Ruandesa, onde foram treinados os efectivos ruandeses que deram apoio ao líder rebelde Laurent Kabila, no derrube do regime de Mobutu.
.O KBR, conjuntamente com a Bechtel Corporation, providenciou mapas elaborados a partir de fotografias obtidas por satélites de reconhecimento, relativos aos movimentos de tropas de Mobutu (a Bechtel Corporation integra interesses ligados ao antigo Secretário de Estado George Schultz e a Caspar Weinberger, quando do lado da KBR estava já no activo, à frente da Halliburton , Dick Chenney).
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A actuação desse cadinho de corporações na fase do derrube de Mobutu, permitiu a abertura que Laurent Kabila teve de fazer a outros conglomerados como o American Mineral Fields e a Barrick Gold Corporation.
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A AMF englobava interesses de Mike McMurrough, uma personagem próxima de Bill Clinton, enquanto a Barrick Gold Corporation, englobava interesses do então Primeiro Ministro do Canadá, Brian Mulroney e do assessor de Bill Clinton, Vernon Jordan, que nessa companhia tinha como assessor precisamente George W. Bush.
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A evolução da situação na RDC, incluindo a morte de Laurent Kabila, tem muito a ver com o desenvolvimento desses enredos, que passaram também com armas e bagagens para Angola: rica em minerais, a RDC possui pouco petróleo, mas Angola é suficientemente rica para, com minerais e com petróleo, fazer com que os “lobbies” de suporte aos democratas (enraizados nas indústrias mineiras das corporações norte americanas e canadianas, assim como no cartel dos diamantes) e aos republicanos (fundamentalmente pela via das corporações do petróleo e associados), encontrem todas as razões para consenso político-operativo, económico, financeiro e se necessário militar, nesta escandalosa (sob o ponto de vista geológico) mistura de Texas e de minas de Salomão.
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O Correio Digital de 24 de Março de 2008, dava a conhecer que “a empresa do Vice Presidente dos Estados Unidos fica com a refinaria do Lobito”, “depois dum longo período de negociações”.
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Também para que isso acontecesse o poderoso “lobby” norte-americano teve de vencer concorrentes, entre eles os que, envolvendo interesses do Japão e da República Popular da China, apostavam muito e a prazos dilatados na refinaria do Lobito.
.Para além das negociações visíveis, o “lobby” ousou mesmo “jogar tudo por tudo” e, segundo se faz constar em determinados círculos das novas elites angolanas, até bolsas de estudo têm sido pagas pela Halliburton em benefício duma conhecida entidade que tem trajectória sénior na área dos petróleos angolanos e é indicada por alguns, actualmente, como assessora da Presidência da República (às tantas e no mínimo, servindo de “discreta ponte” entre a Presidência Angolana e a Norte Americana).
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Tudo seria razoável, não fosse o papel da Halliburton, da Kellog Brown & Root, de Dick Chenney e associados, não só em África (e na estratégia de relacionamentos dos Estados Unidos em África), mas sobretudo nas regiões onde se registaram sempre grandes convulsões e grandes lucros para os senhores da guerra global contra um tão oportuno quanto artificial “terrorismo”, nomeadamente no Afeganistão, no Iraque e nos Balcãs.
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A enorme base de Camp Bondsteel, a maior base militar recentemente erigida pelos Estados Unidos na Europa, sobre a qual repousa a iniciativa da “independência vigiada” de Kosovo, foi construída pela Kellog Brown & Root, segundo Michel Chossudovski, analista sénior do Global Research do Canadá, a fim de garantir cobertura ao oleaduto AMBO (Albânia-Macedónia-Bulgária), o “pipeline” que leva o petróleo do mar Cáspio, passando pelo porto de Burgas (porto búlgaro do Mar Negro), até ao Adrático, atravessando os Balcãs.
.A KBR aparece assim associada à estratégia de domínio, que se manifesta pela destruição de interesses que se manifestem contrários aos interesses dominantes, a fim de instalar os seus próprios interesses, seguindo quase sempre uma via armamentista e de guerra.
.A acreditar na notícia publicada pelo Correio Digital, a interpretação de alguns analistas conduz à conclusão de que Angola cedeu: ao invés de continuar a dar oportunidade aos relacionamentos bilaterais com a RPC e coligados também no sector do petróleo, foi obrigada a abrir as portas aos interesses norte americanos em relação à refinação de petróleo no Lobito, coligados ou não aos sul coreanos, tendo como “aríete” o empenhamento de consórcios como a Halliburton e a Kellog Brown & Root, tão identificadas com os grandes falcões norte americanos..
.Àcerca disso, é evidente que há “parceiros” ao mais alto nível por dentro do MPLA e do estado angolano que “alinharam”, mas o mutismo completo da oposição e de alguns que se dizem pacifistas (inclusivé com alguma expressão neste mesmo blog), perante a “prova de força” dos grandes falcões em Angola, é um evidente indicativo de quanto esses sectores são no mínimo ineptos perante os factos políticos de ordem estratégica que vão ocorrendo, sem melhores alternativas para os relacionamentos bilaterais, ou multilaterais...
.Provavelmente estão ainda distraídos com a “novidade” que constituiu a visita ao porto do Lobito do HSV-2 SWIFT, nos dias 21, 22 e 23 de Fevereiro de 2008..
.Por MARTINHO JÚNIOR
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