Angola, a África, a juventude, devem acordar enquanto os Leões ainda não terminaram a sua refeição, comendo-nos!!! Precisamos de coragem e determinação para definirmos o que queremos que seja exactamente o nosso país e a nossa sociedade. Meus cambas, toca-nos a nós os destinos de Angola, os nossos kotas até ao momento não impressionaram nem a nós nem ao mundo.
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Não é novidade alguma a situação de degradação social e cultural que atravessa o nosso país! (Angola) A cada dia que finda, carrega consigo uma grande dose de esperança no alcance de soluções dignas e idóneas para a então situação de decadência social! O fenómeno atinge todas as classes da nossa sociedade, embora sobre isso os privilegiados prefiram esposar a própria arrogância!
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Dificilmente na nossa sociedade angolana conseguem encontrar-se elementos que nos permitam decifrar com rigor os seus extratos. É uma sociedade bastante paradoxal, com efeitos de “cultucídio” ou “genocídio cultural”, o homem morre em si mesmo! Por consequência, a juventude paga o triplo do preço.
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Num destes dias, curiosamente e sem alguma intenção a priori, pus-me a refletir no conteúdo de uma “mensagem musical”. Como a maior parte da juventude Angolana, gosto muito de Kuduro, que considero como mais um dos resultados da nossa extraordinária capacidade Africana de fazer música, de manifestar o que escorre dentro das nossas almas. Em algumas músicas de Kuduro não se canta simplesmente, mas se conversa, se discute proporcionando ao manifesto, tal como no Rap, uma forte carga expressiva.
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Voltando ao “conteúdo musical”... era simples! Com uma profunda dose realística, porque se trata de um “clamoroso manifesto jovem”, gente que sofre e sente na carne os verdadeiros efeitos de um povo abandonado ao próprio destino.
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"Chaleno", assim se intitula a música. A mensagem é inteiramente direccionada à sociedade, em especial, à juventude pela estagnação em que se encontra. Pouco ou nada se faz como verdadeiro manifesto no sentido de mudar o curso da nossa história, essa que há séculos, nos foi negada com a colonização e que nos continua a ser negada através da neo-colonização ou imperialismo cultural e económico; história que até ao momento somos incapazes de inverter, talvez pela frustração no qual somos imersos que se manifesta nos nossos dias, no extremo degrado dos nossos valores e da grande precariedade sócio-cultural.
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O autor desta música, do seu conteúdo, da sua extraordinária mensagem simples, objectiva e sobretudo direcionada à juventude estagnada, se calhar a terá feito instintivamente. Poderá ter feito com um simples objectivo, o de entreter, típico da indústria cultural contemporânea. Não gostaria de maneira alguma, menosprezar a genialidade do autor, que talvez mesmo sem perceber a grande dimensão cultural na qual a mensagem foi deslizando, o autor transcendeu uma barreira!
Nos nossos dias, tende-se a confundir através do entretenimento: o verdadeiro do ficcional, o real do virtual.
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«Chaleno,...chaleno kiambote muana.
Vamos abandonar Luanda
Puto Sabo no microfone
O Don Gema a mixar
DJ Paloy já esta na pista
Uatará esta a controlar
Por isso vamos já bazar mana
Chaleno, chaleno, ...chaleno
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Em Angola tem buede zanga
Puto Sabo não é “cunanga”
DJ Paloy tem muita “banga”
(...)
Chaleno Kiambote muana uhé
Chaleno Kiambote papa uhé
Chaleno Kiambote avó uhé»
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Neste trato da letra, o enfoque vai sobretudo para as palavras:
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"Vamos abandonar Luanda", "Puto Sabo não é cunanga" , "DJ Paloy tem muita banga" (assim se manifesta, sobretudo na juventude, a nossa ignorância e arrogância intelectual. O encorajamento é feito aos pais, aos filhos e aos avós a aderirem ao manifesto.)
Mas continua:
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«Isto é chaleno
E’ p’ra arrasar
E’ p’ra subir...
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Agora “subir é patente”
Vou mandar chamar o presidente “Noite e dia usa Colgate”
(...)
Por isso vamos já bazar Podem desvaziar Luanda
(...)
Isto è agressividade »
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Já neste trato:
“Agora subir é patente” (à Angolana; como sabemos, a patente è mais importante). “Vou mandar chamar o presidente. Noite e dia usa Colgate” (quantos sorrisos brancos se usam enquanto o país morre mendigando!?). “Isto é agressividade” (logicamente que nos falta).
No trato seguinte, simplifica tudo para concluir de maneira mais clara:
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«Vamos desvaziar Luanda
Luanda já esta muito cheia
Vamos bazar nas nossas províncias “cultivar” os nossos mambos
DJ Eurico a confirmar
Puto Sabo no microfone a “arrasar com todos os malaiques”
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Por isso já, sair voando!
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DJ Paloy, chaleno kiambotéé...
DJ Eurico, chaleno kiambotéé...
Familha boa, chaleno kiambotéé...
(...)
Vamos bazar, chaleno kiambotéé...
“Isto é gás, é p’ra arrasar com todos os CARETAS”»
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Neste final o autor descreve um problema real, que na visão dos nossos representates (os nossos possíveis políticos!?) parece não ter solução viável. Eis a proposta simples e plausível do nosso jovem que possivelmente nem uma linha sobre política tenha lido na sua vida: Voltar ás próprias zonas de origem e com o trabalho desenvolver de maneira global o país.
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Ao verificarmos a mensagem, ela lança o apelo aos MALAIQUES e aos CARETAS deste país. Naturalmente os CARETAS e os MALAIQUES que sublinha o nosso jovem, não se manifestam somente naqueles que de maneira representativa e política parecem ter a maior responsabilidade do degrado e da decadência cultural do país. Manifesta-se em cada um de nós que simplesmente pouco ou nada fazemos para dizer STOP à situação actual em que estamos mergulhados. Os CARETAS e os MALAIQUES somos todos nós que nos limitamos a apontar o dedo escapando das próprias culpas!
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As ideologias no qual estamos afogados não se tratam somente daquelas que com os canhões nos dizimaram, mas também, daquelas que se produzem independentemente nas nossas consciências e que se manifestam através da indiferença e da ignorância total para com os próprios destinos, para com a própria vida e que se simplificam na forma do medo de afrontar problemas de maneira justa e solidária para com a comunidade, ou seja, a própria nação!
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O autor não se limitou a dar culpas a estes ou aqueles, apelou a todos os extratos da sociedade, com maior relevância para a juventude. Vamos abandonar Luanda é um convite à mobilização, ao dinamismo, à necessidade que o país e a juventude têm de despertar caminhando em direcção ao futuro, esse que nunca o veremos se continuarmos a deixa-lo nas mãos dos corruptos, dos viciados, dos caducados e dos irracionais (dos Malaiques).
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Libertarmo-nos da alienação das ideologias, não somente aquelas que bebemos cegamente do ocidente, mas também aquelas que por frustração nasceram e cresceram nas nossas consciências, é o passo fundamental.
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Precisamos despertar, vamos redefinir, restruturar e dar uma função concreta a cada uma das nossas instituições; vamos dar forma e vida a uma sociedade civil Angolana com valores , vamos construir um verdadeiro país (que a meu ver ainda não existe senão teoricamente).
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POR:
LOMBMHULA