«Queridos, infelizmente o mundo está perdido... As próprias pessoas que convivem ao nosso lado anos e anos, são as que mais nos decepcionam!
Silêncio sobre a Sida num casal
Silêncio sobre a Sida num casal
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O meu marido sabia que era seropositivo e não me disse nada...
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Caiu-me o céu quando a médica disse-me: "Céu, o teu teste é positivo!!!".
Era Dezembro do ano passado. Dois meses de broncopneumonia deixaram-me pesando 27 quilos e pedi no centro médico da Rádio Nacional de Angola, onde trabalho como jornalista, para fazer o teste de HIV.
O pior estava a vir. Levei as minhas quatro filhas a fazer o teste. A caçula (mais nova), de nove anos, também é seropositiva.
Chamei o seu pai, do qual estou separada há vários anos, e que trabalha noutra província. As minhas outras filhas são de outro relacionamento. Demorou a chegar, mas apareceu. Conversamos. Convidei-lhe a fazer o teste. Ele apenas respondeu: "Agora que você sabe, é só fazer o tratamento". Contou que já faz tratamento, há alguns anos, na África do Sul. E nunca me disse nada.
A nossa relação durou onze anos. Separamo-nos sem problema algum e só hoje entendo o porque. Tivemos outro filho, que morreu com um diagnóstico indeterminado. Seria Sida?
Acho que o meu ex-companheiro não me avisou por vergonha, egoísmo,orgulho, sei lá... Se nós partilhamos uma vida durante anos, é chocante vir a saber que o meu parceiro me escondeu a sua condição. Considero esta traição como a mais baixa. Afinal já não conhecemos ninguém. O que ele fez é condenável. A primeira mulher, que faleceu há alguns anos, só agora se sabe que morreu com Sida. Neste momento, quatro filhos dele estão infectados com o HIV. É muito triste.
Desesperada, recorri à amigos. Recebi muito apoio e coragem. Tenho gerido a situação, tenho mais cuidados comigo, mudei de turno na Rádio Nacional.Hoje, sou uma mulher lutadora. Enquanto estiver viva, quero dar o melhor aos meus filhos, mas sempre de cabeça erguida.
Vivo com as minhas quatro filhas e dois órfãos de guerra que adoptei.
A minha mãe já é uma pessoa de idade avançada, é comigo que ela tem contado quer na alimentação, como na saúde. É um triplo drama que carrego neste calvário.
O mais doloroso para uma mãe é saber que tem uma filha seropositiva. Só Deus sabe o que está dentro de mim. Um sentimento de culpa por saber que foi transmitido no meu ventre, mas convicta que não foi intencional, porque não sabia da minha condição, nem a do meu companheiro.
A minha filha, para além de ser seropositiva, tem um problema de coração e tem crises constantes. Alguns exames não são feitos no país e se fazem são caríssimos. Infelizmente, até hoje ainda não pude fazer o tratamento disso por falta de dinheiro. Por isso, pode ver como me sinto. O que fazer?...
Tem sido muito difícil da minha parte, não que tenha ódio do meu ex-compaheiro... quem sou eu para o condenar, mas é uma dor muito grande que carrego sempre que imagino o quanto ele foi cruel até com a própria filha.Diga-me com sinceridade, o que merece um pai que contamina o seu filho e quase o deixa morrer? Esta pergunta tem me martelado muito a cabeça, sem contudo encontrar resposta.
O que me levou a assumir publicamente a minha condição é que, ao darmos a cara, ajudamos a todos que se encontram na nossa situação. É também uma forma de acabar com discriminação e passarem a ver-nos como cidadãos normais deste país, que coabitam com uma doença que poderia ser diabete ou cancro.
Sempre acreditei na Sida, porque é uma doença que existe. Mas, apesar da coragem que tive em fazer o teste, o impacto que tive ao receber a confirmação foi doloroso.
O mais importante para mim é poder continuar a contar com as pessoas que me estenderam a mão na primeira hora, fazer tudo que estiver ao meu alcance para que nunca faltem medicamentos e alimentação, principalmente para a minha filha seropositiva, e que Deus continue a me dar força e coragem.»
"Este triste relato, contado na primeira pessoa, apresenta a tragédia de uma mulher, mãe de família, jornalista e profissional de rádio que foi vítima de uma injustiça grotesca e atroz, foi infectada pelo vírus HIV pelo seu próprio marido.
Infelizmente, histórias como está ouvem-se um pouco por toda a parte. Sabemos muito bem que existem elementos promíscuos (Homens, Mulheres, Jovens) na nossa sociedade que sabem que são portadores do HIV e mesmo assim continuam a ter relações sexuais desprotegidas com o desígnio de infectarem o maior número de indivíduos possível. O lema é: “Se alguém me deu, eu também vou dar e não morrerei sozinho”.
Quero aqui deixar o meu mais profundo lamento e pesar. A minha angústia é grande e silenciosa. O que aconteceu com esta mãe podia ter acontecido com a minha ou com outro qualquer familiar meu. Desejo a esta família a melhor sorte do Mundo e se enquanto houver vida há esperança, acreditem sempre nela que vão conseguir ultrapassar as adversidades.
Quem vê caras não vê corações. Lembrem-se disto antes de se envolverem sexualmente com alguém. Usem o preservativo sempre e pratiquem sexo seguro. "
4 comentários:
no comment!
Vou fazer o meu comentário, apesar de ter um nó na garganta. Esta situação, desta mãe de família, não é (infelizmente) única...quantas vezes o mundo tem desabado na cabeça de homens e mulheres, pelos mesmos motivos. O silêncio de quem contamina, a dor de quem é contaminado. Grande mulher e de coragem esta Sra.. Que Deus a ajude a ultrapassar todos os momentos dolorosos e cruéis que a vida lhe reserva. Um bem haja também pela coragem com que tem enfrentado tudo e pela coragem em dar a cara, faz-nos saber e sentir, que podia ser com qualquer um de nós, ou com aqueles que amamos... Força. E só desejo que possa ter mais apoios, para não se sentir tão só nesta batalha.
Um abraço imenso.
Kiara
De fato, infelizmente, ao menos por aqui, tem crescido nos últimos anos o número de mulheres casadas infectadas pelos próprios maridos. Eles acabam desenvolvendo os sintomas, às vezes morrem, e as mulheres acabam descobrindo que são soropositivas muito tempo depois. Pode ser muito tarde... E se não se pode mais ter confiança nem na pessoa escolhida para dividir a vida, a situação torna-se bem difícil. A história contada é chocante, mas, infelizmente -- de novo --, trata-se de uma realidade que poucos têm estômago para enxergar.
Marcelo Melo - Brasil
http://marcelo74.spaces.live.com
Olha Céu admiro muito a tua coragem em dar a cara e declarar publicamente o que tens passado nos últimos anos. Sugiro que se ainda não estudas a bilbia, começe já a estudar a biblia com uma testemunha de Jeová, O Criador do Céu, nunca abandona os que lhe buscam com o espírito e verdade. Força, força.... !!!!!
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