Sou um Angolano branco que nasceu em Angola em 1973, que como muitos outros foi parar a Portugal por via dos acontecimentos de 1975 e que mais tarde voltou à sua terra para viver os últimos anos do regime comunista. Mais tarde parti para os EUA onde vivo desde há vários anos. Como resultado, hoje sinto-me um cidadão de três pátrias e de três culturas diferentes. Nenhuma quero perder pois todas me ensinam algo. Tenho sido bem sucedido até ao momento e nada me falta na vida. Uma parte do meu bem-estar vem do trabalho que faço dia a dia, uma outra parte é uma herança do apoio que durante a infância recebi da minha família também ela espalhada pelos cantos do mundo.
Durante alguns anos vivi um pouco “mentalmente” afastado de Angola muito porque estava 100% concentrado em aprender uma língua e uma cultura nova aqui nos EUA. A vontade de vencer era mais forte do que o pensamento nostálgico normal nestas circunstâncias, apesar do bichinho da saudade nunca me ter largado. Há já algum tempo que atingi um patamar que me permite ligar o “piloto-automático”, mas não demorei muito a sentir que me faltava algo.
O sofá onde me sento é um conforto, a comida que como é bem saborosa, o meu carro não é de grande marca mas até os assentos têm aquecimento (essencial em certas zonas dos states), os meus colegas do trabalho são como família para mim… mas por dentro sinto que todo este conforto não me completa e sinto uma vontade enorme em fazer algo por Angola.
Estou consciente de todas as dificuldades que Angola ainda atravessa, da corrupção à burocracia, da fraca qualidade dos serviços de saúde aos perigos da criminalidade, do lixo na rua ao trânsito caótico nas ruas da capital, da fome ao analfabetismo. No entanto preparei-me mentalmente para “saltar” por cima de todas estas adversidades e de seguir em frente custe o que custar. Para mim será bem mais fácil do que para muitos Angolanos pois não só tenho hipóteses de passar ao lado de muitas destas adversidades, tenho também a sorte de ter uma rede onde cair em caso de “desastre”. Não acredito que seja necessário acabar com todos os males para que se comece a trabalhar e fazer algo de novo. Se assim for, então o futuro próximo muito pouco trará de progresso para Angola e já nem a minha geração terá hipóteses de ver e viver uma Angola melhor. Se estivermos à espera que se acabe com a corrupção antes de avançar-mos, então nem vale a pena perder tempo com estas ideias de progresso. Enquanto vamos apontando os males ainda existentes, mesmo que seja sempre a carregar nas mesmas teclas, há que avançar e por em prática, ideais e projectos. Com coragem e determinação.
E foi assim que arregacei as mangas e comecei a por uma das minhas ideias em prática já lá vão alguns meses. Mas… nem precisei de ir fisicamente a Angola para esbarrar logo no sistema de bloqueio Angolano. Este sistema é todo o conjunto de atitudes que engloba a maioria dos males a que me referi no parágrafo anterior. Pensava eu que os representantes do governo de Angola que aqui em Washington, Nova Iorque e Houston, e que estão supostamente responsabilizados em atrair e apoiar possíveis investimentos estrangeiros, seriam a minha auto-estrada para Angola. Enganei-me. Enganei-me redondamente. Três organizações contactei, três derrotas sofri.
O US-Angola Chamber of Commerce (não governamental) só está disposto a ajudar quem já é membro da organização. Como eu não sou ainda membro nem pretendo ser até que tenha o meu projecto em prática, logo o Chamber arranjou maneira de me “despachar”. A Representação Comercial de Angola nos EUA, não me despachou, mas de nada me adiantou. Estou ainda à espera de informações. Finalmente a ANIP, Agência Nacional para o Investimento Privado. Já lá vão dois telefonemas e um e-mail e de resposta nada. Isto tudo aqui nos EUA. O que consegui eu destas organizações até ao momento? ZERO.
Algo em comum entre estas organizações é que através das suas comunicações, sejam elas verbais ou através dos seus sites na Internet, elas dizem-se ser as autoridades nas matérias e que todo o investimento estrangeiro por elas tem de passar. Se assim é então não sei se vai haver coragem e determinação que me chegue para as ultrapassar.
To be continued.
Durante alguns anos vivi um pouco “mentalmente” afastado de Angola muito porque estava 100% concentrado em aprender uma língua e uma cultura nova aqui nos EUA. A vontade de vencer era mais forte do que o pensamento nostálgico normal nestas circunstâncias, apesar do bichinho da saudade nunca me ter largado. Há já algum tempo que atingi um patamar que me permite ligar o “piloto-automático”, mas não demorei muito a sentir que me faltava algo.
O sofá onde me sento é um conforto, a comida que como é bem saborosa, o meu carro não é de grande marca mas até os assentos têm aquecimento (essencial em certas zonas dos states), os meus colegas do trabalho são como família para mim… mas por dentro sinto que todo este conforto não me completa e sinto uma vontade enorme em fazer algo por Angola.
Estou consciente de todas as dificuldades que Angola ainda atravessa, da corrupção à burocracia, da fraca qualidade dos serviços de saúde aos perigos da criminalidade, do lixo na rua ao trânsito caótico nas ruas da capital, da fome ao analfabetismo. No entanto preparei-me mentalmente para “saltar” por cima de todas estas adversidades e de seguir em frente custe o que custar. Para mim será bem mais fácil do que para muitos Angolanos pois não só tenho hipóteses de passar ao lado de muitas destas adversidades, tenho também a sorte de ter uma rede onde cair em caso de “desastre”. Não acredito que seja necessário acabar com todos os males para que se comece a trabalhar e fazer algo de novo. Se assim for, então o futuro próximo muito pouco trará de progresso para Angola e já nem a minha geração terá hipóteses de ver e viver uma Angola melhor. Se estivermos à espera que se acabe com a corrupção antes de avançar-mos, então nem vale a pena perder tempo com estas ideias de progresso. Enquanto vamos apontando os males ainda existentes, mesmo que seja sempre a carregar nas mesmas teclas, há que avançar e por em prática, ideais e projectos. Com coragem e determinação.
E foi assim que arregacei as mangas e comecei a por uma das minhas ideias em prática já lá vão alguns meses. Mas… nem precisei de ir fisicamente a Angola para esbarrar logo no sistema de bloqueio Angolano. Este sistema é todo o conjunto de atitudes que engloba a maioria dos males a que me referi no parágrafo anterior. Pensava eu que os representantes do governo de Angola que aqui em Washington, Nova Iorque e Houston, e que estão supostamente responsabilizados em atrair e apoiar possíveis investimentos estrangeiros, seriam a minha auto-estrada para Angola. Enganei-me. Enganei-me redondamente. Três organizações contactei, três derrotas sofri.
O US-Angola Chamber of Commerce (não governamental) só está disposto a ajudar quem já é membro da organização. Como eu não sou ainda membro nem pretendo ser até que tenha o meu projecto em prática, logo o Chamber arranjou maneira de me “despachar”. A Representação Comercial de Angola nos EUA, não me despachou, mas de nada me adiantou. Estou ainda à espera de informações. Finalmente a ANIP, Agência Nacional para o Investimento Privado. Já lá vão dois telefonemas e um e-mail e de resposta nada. Isto tudo aqui nos EUA. O que consegui eu destas organizações até ao momento? ZERO.
Algo em comum entre estas organizações é que através das suas comunicações, sejam elas verbais ou através dos seus sites na Internet, elas dizem-se ser as autoridades nas matérias e que todo o investimento estrangeiro por elas tem de passar. Se assim é então não sei se vai haver coragem e determinação que me chegue para as ultrapassar.
To be continued.
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Entretanto, volto para o sofá que o filme está a começar...
Entretanto, volto para o sofá que o filme está a começar...
Por:
Anónimo
6 comentários:
É realmente desanimador. Mas não desista, deverá haver outras maneiras de conseuguir por o seu projecto em marcha sem passar por estas instituições que refere. Provavelmente estão á espera de umas gasosas para lhe dar luz verde...
Infelizmente esta situação não é virgem. Um professor universitário e que foi meu colega, teve esse mesmo problema quando tentou preparar o "envio" de uma grande empresa europeia para Angola onde iria formar e empregar algumas centenas largas de novos profissionais. No Seminário que participou em Espanha, ficou com a ideia que o melhor seria estar quieto. E foi o que aconteceu. "Aconselhá-mo-lo" a estar quieto.
Kandando
Eugénio Costa Almeida
Também estou nos Estados Unidos, e também eu, no meu sofá, penso muitas vezes em como queria ajudar Angola.
Já tentei uma vez, lá, e levou-me nove meses e montanhas de paciência para conseguir passar por todos os labirintos burocráticos.
O mais certo, como diz Kamia, é estarem à espera de gasosa. Na melhor das hipóteses, estão a usar e abusar do seu poderio burocrático... Não desista, use as suas armas, a paciência e a persistência.
É um circuito vicioso! Oiço dizer por ai, que em certas províncias de Angola é necessário oferecermos umas quotas da sociedade que se quer iniciar, ao governador para que o projecto vá avante. Há mesmo alguns que tem alcunhas e são conhecidos como: O 30% ou o 20%
É preciso divulgar esses casos, mas também é preciso que as denúncias sejam levadas a bom porto e que alguém seja responsabilizado quando assim for. Infelizmente na nossa terra isso nunca dá em nada a não ser prejudicar o queixoso. Tente não desanimar, já foi pior…
Desejo-lhe sucessos nesse projecto que tenta pôr em pratica. Precisamos de postos de trabalho e de sustentar uma economia fragilizada como a nossa.
Abraço
Tomei a liberdade de transpor parte deste apontamento e respectivo acesso no meu blogue.
Kandando
Eugénio Almeida
Penso que o problema está naturalmente nas mentalidades e nos vicios que se foram criando na sociedade. Para nós que vivemos em países em que a organização é muita e que quem comete erros é chamado à razão e muitas vezes em praça pública... Em Angola quando é que isso poderá acontecer? Tenho esperança que se alcance uma justiça célere para este tipos de casos... Quantas mais gasosas se tem de pagar para ver Angola entrar para uma civilização a sério?
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