quarta-feira, novembro 30

Cânticos anónimos I

Ontem mesmo andei num autocarro, (transporte público urbano). Há muito que já não o fazia, pois tinha um carro velho que dava para as minhas curtas saídas.
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O meu espanto foi que nos autocarros cobram-se valores mas não se passam os bilhetes de passagem. Ainda ontem (27.11) andei num candongueiro (espécie de táxi com destinos predeterminados, mal conservados e com pessoas enlatadas). Todos os passageiros, dos mais variados extractos da sociedade, reclamam o andar inverso das coisas em Luanda e no país.
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Ruas feitas pocilgas neste tempo chuvoso, lixo nas ruas e mercados paralelos, aos olhos cegos dos governantes, delinquência aberta nas "barbas da polícia", e pior, ninguém faz nada porque ninguém vê nada! Os que deveriam ver e fazer, andam em carros luxuosos e com vidros fumados onde nem o cheiro nauseabundo penetra, nem os saltos os incomodam. O resto é Selva!
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Parece-me que vivem duas categorias de pessoas em Angola. Os Homens (governantes e clientes) e os Selvagens (nós os simples mortais).
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Uma coisa é certa, já ninguém suporta a degradação da vida em Angola!!! Todos os dias há novos contratos de concessão de exploração petrolífera. Mais kimberlitos descobertos. Mais carros luxuosos dão entrada nos portos de Luanda, Namibe e Lobito. Porém, mais sem tecto nascem, mais desempregados, mais crianças morrem na pediatria por falta de medicamentos e camas, mais jovens se entregam à prostituição e drogas. Já é lema "prostituir-se pelo menos uma vez para subir na vida".
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Estas são as crónicas de viagens, os cantares do povo nos autocarros públicos, nos candongueiros, nos bares, nas casas de liamba, enfim, onde o povo desabafa... Essas crónicas gostaria de ver transmitidas ao grande público. Tanta anormalidade a que assistimos. Quem os quiser ouvir é só meter-se num autocarro ou candongueiro, ou num prostíbulo. O caricato é que os próprios "louva corte" também já reclamam.
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Por:
Soberano Canhanga

3 comentários:

Anónimo disse...

Em 10 de Maio de 1975,cheguei a Kinshasa. Quando vi os transportes públicos, que eram camionetas de carga e candongueiros, pensi que "os angolanos nunca aceitariam isto. Nunca em Luanda". Quando cheguei a Luanda em 2003, depois de quase 20 anos na Europa, não acreditei que os luandenses tivessem chegado a aceitar serem transportados de forma tão degradante. Que era feito dos machimbombos, que era feito dos táxis? Era somente um indicador do que acontece quando, com o beneplácito do poder, os padrões são baixados.
Quando Rudy Giuliani foi mayor de Nova Iorque, explicou a sua "teoria do vidro partido na janela". Não e importante uma janela com um vidro partido, mas, se não é consertada e é ignorada, outros vidros partidos surgirão. E, a seguir a esses, outros problemas serão descurados.
Que começou primeiro em Luanda, os candongueiros ou os esgotos que não funcionam? Ou os buracos que não são tapados? Os semáforos apagados? O esquema? A realidade irreal?

Soberano Kanyanga disse...

Canticos anónimos (cronicas de viagens)já no
http://olhoatento.blogspot.com

Por: Soberano Canhanga

Anónimo disse...

Leiam também http://olhoensaios.blogspot.com